Especialista em relações internacionais estudou a relação das exportações de soja e o meio ambiente

Editoria: Vininha F. Carvalho 26/08/2003

O aumento das exportações de soja, que respondem por 42% das vendas de grãos do Brasil ao exterior atualmente, só foi possível graças à forte degradação do Cerrado ao longo das últimas quatro décadas. A tese é defendida pelo internacionalista (especialista em relações internacionais) Fábio Albergaria, da UnB - Universidade de Brasília, que por quase dois anos estudou a relação das exportações da soja e o meio ambiente.

Segundo Albergaria, apenas 20% do Cerrado - que cobre um quarto do território brasileiro e está distribuído entre os Estados de Goiás, Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Bahia, Minas Gerais, São Paulo, Maranhão, Piauí, Paraná, Pará e Rondônia, além do Distrito Federal - ainda estão preservados. Esse grave quadro deve-se à expansão da fronteira agrícola e, também, da pecuária.

As implicações da cultura da soja sobre o Cerrado preocupam, de acordo com Albergaria, por causa do aparecimento de erosões, queimadas, empobrecimento do solo e por colocarem em risco algumas bacias hidrográficas que nascem e têm curso nesse bioma.

Dados do Ministério da Agricultura confirmam que, anualmente, 1 bilhão de toneladas de solo fértil é perdido em virtude das erosões e que, para cada quilo de grão produzido, há uma perda de 10 quilos de terra fértil, devido ao mau manejo. Não bastassem os problemas ambientais, o plantio da soja ainda provocou o êxodo da população do campo para a cidade, graças a incentivos do governo federal a partir da década de 60.

Pequenas propriedades foram compradas, por meio de estímulos do governo a latifundiários, e pequenos agricultores deixaram as fazendas e foram em direção às cidades - lembra Albergaria.

A questão ambiental está enfraquecida em virtude da importância econômica da soja, que colocou o Centro-Oeste brasileiro na rota do desenvolvimento. Para o coordenador do setor de soja da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Caio Vidor, é necessário haver um equilíbrio entre a questão ambiental e a produção, uma vez que a combinação soja e Cerrado tem posicionado o Brasil entre os mais competitivos no setor. Aliás, o país está entre os 10 maiores exportadores de grãos do mundo, chegando a produzir 2,7 toneladas por hectare.

A Argentina e os Estados Unidos temem a potencialidade brasileira. Eles não têm mais para onde expandir a produção, enquanto nós contamos com o Cerrado - afirma. Albergaria lembra, ainda, que a necessidade de se criar corredores para o escoamento da soja pode trazer conseqüências ambientais ainda mais nefastas ao Cerrado. É claro que o Cerrado tem importância econômica ímpar para a região. O que precisamos é olhar adiante. Não podemos comemorar todo ano recordes de safra e achar que isso por si só basta. No futuro, a economia regional pode ficar comprometida pela desatenção de hoje - adverte.

Ambientalistas e produtores de soja estão atualmente mais preocupados com a defesa ambiental do Cerrado, de acordo com Vidor. Segundo ele, existem mecanismos para preservar o bioma, como, por exemplo, a substituição de produtos químicos por inseticidas naturais. Outra opção que está sendo adotada é o plantio direto - que preserva parte da vegetação original - em vez das queimadas.

Fonte: ICV