Agrônomo desenvolve método para reciclar embalagens de lubrificantes

Editoria: Vininha F. Carvalho 26/08/2003

Embalagens plásticas de Polietileno de alta densidade (Pead) descartadas pelos postos de gasolina e que são depositadas nos lixões, representando uma grande ameaça ao meio ambiente, podem reduzir o impacto ambiental que causam se forem recicladas em maior volume.

Um dos motivos do baixo índice de reprocessamento, segundo especialistas do setor, está no alto custo exigido para o reaproveitamento do óleo combustível que sobra nos frascos plásticos.

Buscando uma solução para essa questão o engenheiro agrônomo, João Antonio Galbiatti, da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), em Jaboticabal, desenvolveu um método de reciclagem para essas embalagens.O projeto, de tecnologia exclusivamente nacional conforme Galbiatti, baseou-se no desdobramento de processo de recuperação e reciclagem de óleos lubrificantes, aditivos, Pead e na captação da matéria prima.

A nova técnica, informa o engenheiro, substitui com vantagens as já existentes, que não são utilizadas com freqüência em função do alto custo de implementação.

Galbiatti mantém sob segredo seu método, que ainda aguarda o registro da patente. Ele garante, porém, que a nova técnica é economicamente viável porque emprega produtos já existentes no mercado. Normalmente os processos da reciclagem de plásticos apresentam certa semelhança. As embalagens são lavadas em um tanque onde são separadas as impurezas. Os "batedores" instalados no tanque, ao agitar a água para o deslocamento dos frascos colocam parte das impurezas em suspensão, contaminando o plástico lavado, o que exige a passagem do produto por uma outra lavadora e uma secadora nas etapas posteriores do processo.

De acordo com Galbiatti, pelo seu processo, a lavagem é realizada em uma solução que "arrasta" as impurezas para fora da lavadora, depositando-as num tanque de decantação. Desta forma, elimina-se, os equipamentos usados no processo anterior. "Os recicladores de plásticos não processam os rejeitados, devido à dificuldade de coleta, a presença de contaminantes e no tratamento dos efluentes gerados no processo de reciclagem. Por isso, desenvolvemos uma tecnologia específica, para a solução destes problemas", explica o engenheiro.

O projeto, além de proporcionar a geração de empregos diretos na mão-de-obra operacional e vagas de gerenciamento industrial e comercial, ameniza o impacto ambiental causado pela contaminação do solo, aumento da vida útil de aterros sanitários e lixões. O plástico moído e transformado em grãos pode ser reaproveitado na fabricação de conduítes elétricos, mangueiras para a irrigação, novamente frascos de óleos lubrificantes e aditivos, caixas para fração elétrica, cabides, pregadores, vasos de plantas e suportes de parede. Galbiatti conta que o processo já é considerado uma tecnologia. A grande dificuldade está no processo de patenteamento, devido à burocracia existente e a dificuldade financeira das empresas.

"Na época que o projeto acabou não houve tanta repercussão como hoje. Até ganhamos o prêmio de inovação tecnológica na mostra da Unesp", comenta."Inicialmente a Fapesp, financiou o projeto, que custou cerca de R$ 27 mil, em seis meses. Mas quando o processo se finalizou, tivemos que recorrer ao patenteamento", diz o engenheiro.

No último balanço comercial feito por Galbiatti, o total de custos ficaria em torno dos R$ 23 mil e o faturamento próximo de R$ 39 mil, com lucro líquido de R$ 16 mil. Dados do Sindicato Nacional da Indústria do Rerrefino de Óleos Minerais (Sindirrefino) indicam que o país consome por ano 900 milhões de litros de óleo lubrificante, sendo 60% de óleos automotivos e 40% industriais.

No uso, parte do lubrificante é queimada ou incorporada ao produto final, restando como óleo cerca de 250 milhões e 300 milhões de litros/ano. Se todo esse volume seguisse para o rerrefino, a situação estaria sob controle, mas não é isso que ocorre na prática: em torno de 100 milhões de litros/ano têm esse destino. O restante é descartado no solo e na água ou queimado, quase sempre de forma inadequada. Para Galbiatti, essas práticas, além de desperdiçarem uma importante fonte de recursos, dado ao alto grau de reaproveitamento do Pead, geram um grande impacto ambiental. "Um litro de óleo é capaz de esgotar o oxigênio de 1 milhão de litros de água, formando na superfície uma fina camada que bloqueia a passagem de luz e ar, eliminando qualquer espécie viva no ambiente", diz o professor.

O Sindirrefino contabiliza hoje apenas oito companhias recuperadoras de óleo que atuam exclusivamente nas regiões Sul e Sudeste, notadamente onde se registram os maiores níveis de consumo do produto. As regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste foram abandonadas, sem que nenhum processo de reciclagem seja praticado nessas áreas do país. Nelas, prevalecem o descarte indiscriminado e a queima irregular.

Fonte: Agência Brasil