O papel da comunicação

Editoria: Vininha F. Carvalho 25/11/2014

Na semana passada estive no IV Simpósio Internacional de Desenvolvimento da Primeira Infância, promovido pela Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, da qual faço parte como voluntária no Comitê de Comunicação.

Como o assunto é extremamente envolvente e os temas abordados têm meu interesse pessoal, sempre saio com a cabeça borbulhante de pensamentos. Desta vez não foi diferente, funcionou como riscar um fósforo perto da pólvora e o questionamento principal que surgiu foi: qual o real papel da comunicação na sociedade?

Só posso concluir que é enorme e essencial, no entanto, feito com tamanha irresponsabilidade da nossa parte, profissionais da área. Exemplos que transformam esta teoria em verdade não faltam.

Para começar, tenho dois exemplos vivenciado por todos. O primeiro é do cigarro. Foram feitas inúmeras leis transformando o fumante em um condenado, colocadas imagens chocantes nas embalagens dos produtos e uma restrição implacável a publicidade deste tipo de produto.

Mas o mais importante, que é trabalhar a conscientização em massa dos males que o cigarro causa, não foi feita. E se foi, não foi eficiente.

Conscientização requer comunicação, feita com cuidado, lógica e respeito ao seu público. Tratar o problema através da proibição não o resolve, apenas o ameniza. Neste caso especificamente me parece até que houve certa mistura entre legislação e comunicação.

De alguma forma, a sociedade passou a negar sua existência e não trata-lo: não ver o fumante não significa que ele não exista.

Outro caso similar é o do Estatuto da Criança e do Adolescente. De que adianta um estatuto se não temos pais, mestres e cuidadores preparados para educar uma criança, que no futuro próximo pode se tornar um adolescente problemático? Novamente colocou-se regras, mas não se colocou à luz, a causa. Como consequência não a tratamos, como sociedade, com o devido cuidado.

Dessa forma, não há como esperar resultados satisfatórios. Hoje, sabemos por estudos científicos que a criança, desde a gestação, absorve tudo o que acontece e portanto vai reagir de alguma forma a isso. Não se divulga que nos primeiros anos de vida é que 80% da capacidade cognitiva da criança se forma.

Este nível de informação, esclarecedora, importante, crucial, adaptada aos diversos públicos, não chega a grande massa da população.

Fica restrita a grupos que se esforçam herculeamente para conscientizar o maior número de pessoas possível, tentando criar uma agenda positiva sobre a questão e impactar a sociedade com um caminho que indica para uma real evolução.

Não condeno a realização das iniciativas citadas, porque é melhor ter algo do que não ter nada, mas condeno o papel do comunicólogo que talvez deixe de questionar quando tem a oportunidade. Nós, profissionais de comunicação, nos tornamos “fazedores” e deixamos de ser “pensadores”. Deixamos, com raras exceções, de considerar as relações de causa e efeito, não planejamos considerando a forma de absorção da informação do seu target e sua forma de reação.

Trabalhamos sob a ditadura das metas de vendas, dos resultados, dos ROIs, e deixamos de fazer perguntas que podem levar nossos clientes a um resultado muito mais consistente e mais promissor. O pensamento e as estratégias estão automatizadas, parecem todas iguais, mesmo que sejam para produtos e mercados diferentes.

Vale a nossa reflexão sobre o nosso real papel como profissionais e na sociedade, pois ela é a reprodução do nosso dia-a-dia, dos nossos lares, dos ambientes que frequentamos. Se nos acomodamos como profissionais, certamente também estaremos acomodados como cidadãos.



Fonte: Marta Fujii é sócia fundadora da agência FitLife Marketing, há 27 anos no mercado publicitário