Copa e eleições: um desgaste emocional

Editoria: Vininha F. Carvalho 14/07/2014

Quando, no ano passado, milhares de pessoas saíram às ruas em São Paulo para protestar contra os gastos públicos, os esbanjamentos na construção dos estádios – que o governo insiste em chamar de “arenas” – e gritar contra a corrupção, tudo isso foi cansativo, não só para quem participou, mas também para quem assistiu aos protestos pela imprensa.

Já neste ano, a expectativa desta que foi chamada de “Copa das Copas” também trouxe uma enorme carga emocional desgastante em virtude, é claro, da derrota da nossa Seleção.

Por mais que se critique o evento esportivo no Brasil, como eu e muitos outros fizemos, as pessoas acabam torcendo. Comigo não poderia ser diferente, mas confesso que senti até um alívio quando perdemos.

Aos poucos percebi que aquilo estava me fazendo mal. Entre uma pipoca e outra, ficar ali e olhar aquela truculência, aquele circo anestesiante, me fez, ao fim do jogo, sentir que minha energia era absorvida, ganhando ou perdendo.

Procurei entender o porquê, para não me julgar “um chato de galochas”, daqueles que não participam e não extravasam o patriotismo nem em Copa do Mundo, mas tentando fazer uma reflexão sobre como viver num país pobre, com tantos problemas, de modo que até o circo acaba cansando.

Muitas vezes pensei em qual seria o tema do meu próximo artigo, mas não vinha nada à mente; apenas os estádios caros, minha imagem anestesiada pelo jogo torcendo, mesmo sabendo que chega a ser revoltante ver aquelas “arenas” que não servirão para mais nada daqui pra frente.

Senti um verdadeiro apagão inspirador no país onde houve, segundo o técnico Felipe Scolari, uma “pane” nos jogadores. E assim, percebi que, por alguns instantes, do ponto de vista literário, também havia sofrido esta pane.

Agora virão as eleições, começará tudo de novo, o horário eleitoral, as promessas vazias, as velhas figuras políticas explorando a miséria e trazendo um discurso mais esportivo, motivado pela Copa.

É provável que muitos desses figurões critiquem os jogadores, para não trazer à baila a discussão sobre, é claro, o custo das “arenas”.

E então, já sei, voltará o cansaço, a mesmice, e tenho certeza de que terei de descansar. Desta vez não vou viajar para longe, ir ao exterior. Agora pretendo ficar por aqui, quero ir para Minas Gerais.

A propósito, descobri o porquê disso: toda vez que escrevo tomo muito café, aquele café mineiro com cheiro de bule, e aí eu sonho com interior, fogão à lenha, cidadezinha de Minas Gerais.

Como nunca fui ao interior de Minas, esse acaba sendo meu refúgio emocional... O lugar calmo, sem passeatas, sem “arenas”, só fogão à lenha e cafezinhos... Será que existe mesmo essa cidade? Esse “trem bom”????? Ou já estou na fase do Lexotan para me aliviar desse Brasil cansativo... de Copa e eleições...?

Fonte: Fernando Rizzolo é Advogado, Jornalista e Mestre em Direitos Fundamentais