A segurança hídrica e a sustentabilidade nas empresas

Editoria: Vininha F. Carvalho 18/03/2013

A segurança hídrica é um assunto que preocupa os governantes responsáveis de todo o mundo e tem pautado fóruns multilaterais sobre recursos hídricos.

Uma das tarefas desafiadoras dos governos neste século é assegurar o acesso e a disponibilidade de água, em quantidade e qualidade, para os usos imprescindíveis ao funcionamento de nossas sociedades.

O quadro que se afigura conjuga demandas hídricas em crescimento, dado o imperativo do desenvolvimento das nações, e mananciais ameaçados pelos efeitos adversos das atividades humanas.

Muitas dessas atividades são absolutamente necessárias para a busca do bem-estar geral - como a produção de alimentos, a geração de energia e a produção industrial – e são desempenhadas pelo setor produtivo, pelas empresas.

Por esse motivo se reconhece que vencer tal desafio não é atribuição exclusiva dos governos, apesar das óbvias responsabilidades do setor público na gestão dos recursos naturais.

O desenvolvimento sustentável deve passar do conceito à prática no setor privado, que deve preocupar-se com o ambiente hídrico que hospeda e viabiliza as atividades produtivas e industriais.

Sabe-se que os governos reconhecem a capacidade do setor privado de desenvolver e aplicar novas tecnologias, assim como se espera do setor público a viabilização da infraestrutura e dos instrumentos de política necessários para pavimentar o futuro sustentável das sociedades.

Pois ambos são críticos para tornar possível a gestão da oferta e da demanda por água no cenário de insegurança que nos apresenta.

É verdade que o entendimento de como o setor privado pode contribuir para o resultado efetivo das políticas públicas de gestão da água é incipiente.

Por outro lado, este é o momento de os líderes empresariais romperem com a exclusividade que têm tido os governos, as organizações multilaterais e as organizações não-governamentais no debate sobre as políticas de recursos hídricos.

As empresas precisam complementar esses esforços e, sobretudo, aportar as suas visões, expectativas e mesmo as lições aprendidas com ações voluntárias e inovadoras.

Há exemplos, ainda insuficientes, de empresas gerenciando melhor a água na perspectiva da sustentabilidade - para além de implantar medidas de eficiência interna, as quais, de resto, são essencialmente obrigatórias.

Algumas empresas descobriram que a escassez na abundância ameaça os seus negócios, conquanto sua inação a respeito de tão crítico assunto não somente atinge sua imagem como também deslegitima sua licença social para utilizar os recursos de que necessitam para produzir.

De seu turno, as empresas proativas na agenda da água já compreenderam que a gestão eficiente do recurso, dentro de limites organizacionais mais amplos, na escala da bacia hidrográfica, deve se dar em paralelo à existência de um ambiente regulatório que emita sinais positivos para a adoção do uso responsável da água.

Lembremos que usar responsavelmente a água significa considerar os benefícios sociais e econômicos de longo prazo e o imperativo de favorecer a biodiversidade e os processos ecológicos na escala da bacia hidrográfica.

Como tenho abordado frequentemente em artigos e entrevistas, esses sinais inexistem até o presente, mas, uma vez emitidos, serão vistos pelas empresas como uma oportunidade para inovação paulatina na gestão da sustentabilidade da água em toda a cadeia de valor.

A inserção das empresas na governança da água e nos esforços globais de conservação do recurso virá por esse caminho. No mesmo movimento entrarão em cena padrões internacionais de certificação de uso responsável da água, os quais oferecerão reconhecimento e diferenciação àquelas empresas que verificadamente agirem com a responsabilidade requerida.

Dessa forma, teremos incentivos à adoção de processos mais eficientes também do ponto de vista do resultado da pegada hídrica de produtos e serviços.

As novas práticas de gestão da água nas empresas contribuirão para a governança, a qualidade e a quantidade de água nas bacias hidrográficas, além de favorecer a conservação dos ecossistemas relevantes.

A insegurança hídrica é um dos grandes desafios deste século e a escassez relativa da água é um problema real que afetará as indústrias e o sistema produtivo de maneira abrangente.

Portanto, devem ser enfrentadas pelos líderes dos setores produtivo e industrial dentro da agenda da sustentabilidade.

A missão imediata desses líderes é considerar nos modelos de negócio e em toda a cadeia de valor algumas externalidades que hoje são difíceis de custear - por esse motivo sendo um ônus para a sociedade, que pode experimentar menor qualidade e disponibilidade de um recurso essencial ao seu funcionamento e, antes de tudo, à própria vida.

As lideranças empresariais precisam reunir experiências que possam ser levadas aos debates e à formulação de políticas públicas de sustentabilidade da água.

Para isso, a sustentabilidade nas empresas deve disseminar-se como rotina de administração e fazer parte do cotidiano dos negócios.

Em mais se fazendo para uma nova geração de políticas públicas e de práticas empresariais de gestão da água, poderemos reunir as condições objetivas para reduzir a insegurança hídrica, cuja tarefa é responsabilidade de todos e da qual as empresas não podem se isentar.

Silneiton Favero é especialista em Gestão de Recursos Hídricos, consultor sênior da Green Domus e colaborador da Aliança Global pelo Uso Responsável da Água (www.greendomus.com.br).



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Fonte: Silneiton Favero é especialista em Gestão de Recursos Hídricos, consultor sênior da Green Domus e colaborador da Aliança Global pelo Uso Responsável da Água