Editoria: Vininha F. Carvalho 23/05/2013
A agenda da sustentabilidade é ampla e seu cumprimento, desafiador. Temos demandas múltiplas por recursos naturais variados e, a um só tempo, ameaças importantes aos ecossistemas que os tornam disponíveis.
É uma equação que ainda não fecha se considerarmos uma perspectiva temporal mais alongada - que caracteriza o desenvolvimento sustentável.
As indústrias e o setor produtivo são responsáveis pela transformação desses recursos em bens e serviços, em produtos e commodities sumamente importantes para o atendimento das diversas demandas das pessoas, o que garante o funcionamento das sociedades.
De fato, as emissões de gases de efeito estufa (GEE) se referem a processos que visam a atender essas necessidades. E isso exige, para começar, mais energia, mais água e mais alimentos.
As empresas que nos oferecem bens, serviços e commodities têm responsabilidades pelo uso responsável dos recursos que suportam seus processos e, afinal, viabilizam seus negócios. É nesse sentido que políticas corporativas de sustentabilidade começam a marcar o cenário empresarial.
A mensuração das emissões de GEE já é rotina em muitas empresas que resolveram ser pró-ativas na implementação da agenda da sustentabilidade.
Algumas delas realmente a utilizam como ferramenta de gestão interna para melhorar processos e produtos, reduzindo a intensidade carbônica e logrando eficiência operacional e financeira. Mas é evidente que as mudanças embutem custos marginais que podem ser importantes ou mesmo impeditivos.
Ademais, a disposição de reduzir a intensidade carbônica pode mostrar-se economicamente inviável diante das opções tecnológicas disponíveis ou dos condicionantes de mercado.
E pode implicar perda de competitividade da empresa no setor em que atua se as demais não se sentirem, ou forem, igualmente compelidas a promovê-las.
Entretanto, a gestão das emissões pode combinar a redução possível de parte das emissões com a neutralização de seu complemento, justamente aquele que embute os custos marginais de redução mais elevados. Existem tecnologias e ferramentas para isso. É, portanto, uma questão de decisão.
Frequentemente se compensam emissões com o plantio de árvores, haja vista a capacidade das plantas em crescimento de estocar carbono. É uma ação válida, sobretudo se aliada a projetos de reflorestamento e de recuperação da vegetação ciliar em áreas de manancial.
Todavia, além de ser metodologicamente complexo garantir que determinada quantidade de carbono será absorvida (ou sequestrada) em uma dada área florestal, a ação se sujeita a riscos permanentes de que o carbono sequestrado simplesmente retorne à atmosfera, por exemplo, pela ação de pragas e em virtude de incêndios florestais criminosos ou devidos a intempéries climáticas.
A neutralização pela via da alocação de créditos de carbono, gerados em projetos energéticos verificados e certificados é custo-efetiva e definitiva na ótica da neutralização.
Essa ação realmente se constitui em solução na medida em que as reduções já ocorreram e não podem mais ser revertidas, sendo uma contribuição real e mensurável ao combate às mudanças climáticas globais.
Compreende-se, todavia, que o tipo de solução a ser adotado pela empresa é também uma função de quão madura está sobre a agenda da sustentabilidade em relação ao seu modelo de negócio. Ou seja: em como os resultados ambientais do negócio se articulam com a sua política de sustentabilidade.
A verdade é que as circunstâncias atuais nos convidam a buscar maior racionalidade no aproveitamento dos serviços prestados pelos ecossistemas.
Nesse quadro, o setor privado é o agente da mudança de patamar na relação de utilização dos recursos naturais. De seu turno, a gestão de emissões de GEE, mediante a redução e a neutralização, é um item tangível e viável dessa agenda - e que se opera na empresa.
Silneiton Favero é consultor sênior em Sustentabilidade da Green Domus Desenvolvimento Sustentável Ltda. (www.greendomus.com.br)