Foz do Iguaçu abriga uma das últimas grandes obras do gênio da arquitetura

Editoria: Vininha F. Carvalho 07/12/2012

O campus da Universidade Federal da Integração Latino-Americana
(Unila), em construção em terreno de 45,7 hectares, ao lado da usina hidrelétrica de Itaipu, em Foz do Iguaçu, será um dos últimos grandes legados do arquiteto Oscar Niemeyer, morto na quarta-feira (5/12), aos 104 anos de idade, no Rio de Janeiro.

Se não houver atrasos no cronograma, a primeira fase da construção estará pronta no primeiro semestre de 2014, quando Foz do Iguaçu completará o aniversário de 100 anos de emancipação política.

“Poder contar com uma de suas últimas grandes obras, no centenário da cidade de Foz do Iguaçu, é extraordinário. É a última grande obra de um grande brasileiro, que honrou e levou a marca e a genialidade do nosso País para todos os cantos do mundo”, afirmou o diretor-geral brasileiro de Itaipu, Jorge Samek.

Assim como outras autoridades, Samek lamentou a morte do maior gênio da arquitetura.

Outra peculiaridade da obra, de acordo com Samek, é que o campus da Unila está localizado ao lado de um dos maiores marcos da engenharia moderna: justamente a usina de Itaipu, a maior geradora de energia elétrica do planeta.

Na avaliação do diretor-geral, o campus da Unila irá reforçar também a vocação da região para o turismo, que tem como sua maior estrela as Cataratas do Iguaçu.

“A Unila ainda vai levar a marca de ser a última grande obra do nosso maior arquiteto. Isso vai ter um apelo extraordinário para uma cidade turística como Foz do Iguaçu. Por isso, temos muito o que agradecer”, completou.


Atenção aos detalhes:

A primeira fase da construção do campus prevê 78.961,77 m² de área construída, incluindo o prédio de aulas, o edifício central, as salas de professores e setores administrativos, além do restaurante universitário.

As curvas que marcaram a obra do mestre se destacam no projeto. O investimento é de R$ 242 milhões.

O diretor de Itaipu lembra que esteve várias vezes reunido com
Niemeyer, no Rio de Janeiro, para discutir o projeto. Uma das
características do mestre que chamaram a atenção, segundo Samek, foi o cuidado com os detalhes.

“Ele desenhou esse projeto da Unila pelo menos seis vezes. Foi ao limite da busca pela integração [dos povos], estudando inclusive a própria usina, que está ao lado”.

A construção das duas torres de 23 andares, por exemplo, foi para que os prédios estivessem em um patamar superior ao da própria barragem de Itaipu. A intenção, segundo dizia o arquiteto, era para que a educação ficasse acima de todas as grandes obras.

“Esses são detalhes que só um gênio consegue desenhar”.Samek lembra também do entusiasmo do arquiteto com o projeto de uma
universidade que iria integrar, no mesmo espaço, jovens de toda a América Latina. O próprio Niemeyer, após exílio na França, elaborou o projeto da Universidade Constantine, na Argélia, no continente africano.

Na época recém-emancipada da França, a Argélia era dividida em várias províncias. “A ideia do Niemeyer era exatamente integrar o país através da universidade. Então, com a Unila, ele já tinha o conceito na cabeça: de como deveria ser os alojamentos, a biblioteca, os laboratórios. De forma que essa integração fosse real e permanente”.


Desafio no sertão:

No escritório na Avenida Nossa Senhora de Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro, com vista para uma das paisagens mais bonitas do País, Niemeyer discorria sobre uma dos maiores desafios da vida pública brasileira: levar a capital da costa para o sertão, deslocando de uma só vez deputados, senadores, ministros e toda uma gigantesca estrutura estatal.

“Eu ficava abismado [com a construção de Brasília]. A gente tem tanta dificuldade hoje para fazer uma nova linha de transmissão, uma nova hidrelétrica, e que milagre é esse de construir uma capital em três anos e meio?”, recorda Samek.

As respostas, ele encontrou com o próprio arquiteto, responsável por prédios como o Congresso Nacional e suas cúpulas
invertidas, ícones da capital da República.

“Ele dizia que, se você quer que um projeto dê certo, então trabalhe com pessoas que acreditam profundamente que vai dar certo”, comentou o diretor de Itaipu, destacando que muitos dessas histórias serviram de exemplo na própria gestão da usina.

“Então Brasília foi esse fenômeno de ter pessoas que efetivamente acreditavam no projeto de interiorização e acreditavam no Brasil”.

Para Samek, Niemeyer vai ocupar a galeria dos grandes personagens da vida pública brasileira. “Foi um homem singular. Uma pessoa diferente por ter alcançado o sucesso que alcançou, a fama que alcançou, e ter mantido a coerência de querer construir um mundo novo, um mundo sem desigualdade. Enfim, essa foi sempre a sua grande marca”, disse.

Fonte: Itaipu