Harpias chegam ao Paraná, vindas do Pará, para fortalecer o trabalho do Refúgio Biológico Bela Vista

Editoria: Vininha F. Carvalho 22/01/2013

Maior projeto de reprodução de harpias em cativeiro do Sul do País, o Criadouro de Animais Silvestres da Itaipu Binacional (Casib), do Refúgio Biológico Bela Vista(RBV), recebe, nesta terça-feira (22/1), mais dois exemplares da espécie – que está ameaçada de extinção.

As aves serão transferidas do Parque Zoobotânico Vale (PZV), em Marabá, no Pará, onde vinham sendo tratadas desde 2011, depois de serem resgatadas pelo Ibama em um cativeiro particular na região do Tucuruí.

As harpias estão sendo transportadas de avião. O horário de chegada em Foz do Iguaçu ainda não foi confirmado. De acordo com o veterinário Wanderlei de Moraes, da Divisão de Áreas Protegidas (MARP.CD), que receberá as aves, logo depois do desembarque as harpias seguirão diretamente para o Casib, onde passarão por um período de quarentena.

Entre os primeiros cuidados, as harpias, identificadas como fêmeas, serão submetidas a exames de rotina e também de DNA, para a confirmação do sexo. A liberação da quarentena e o resultado da investigação da sexagem devem ocorrer em 20 dias.

A transferência das harpias foi acertada pelo biólogo Marcos José de Oliveira, da MARP.CD. Segundo Moraes, a transferência desses animais para o Casib é emblemática por alguns motivos. Primeiro porque amplia a diversidade genética do plantel de Itaipu e a própria população de harpias em cativeiro, visando a um futuro manejo da espécie no Sul do Brasil, onde está praticamente extinta.

Outro aspecto importante, para o veterinário, é que, atualmente, além de receber animais para a formação do plantel de reprodução, o Casib está buscando parceiros com a finalidade de montar uma rede de criadores interessados em colaborar com o aumento da população da ave.

Com a montagem da rede de criadores, explica Moraes, “poderemos destinar nossos excedentes e ampliar o número de mantenedores da espécie. Este é o nosso grande desafio”.


A harpia:

Também conhecida como gavião-real, a harpia (Harpia harpyja) é uma das maiores aves de rapina do planeta, chegando a medir 2,5m de uma ponta a outra da asa.

Originalmente, a espécie habitava uma ampla região que ia do Sul do México ao Norte da Argentina, compreendendo todo o atual território brasileiro. O contínuo desaparecimento das florestas, no entanto, fez reduzir drasticamente a população dessas aves, que precisam de grandes áreas de mata contínua para sobreviver.

Hoje, no Brasil, ela só é encontrada em abundância na região do bioma amazônico, além de poucos registros no que restou da Mata Atlântica.

No Paraná, embora sua imagem esteja representada no alto do brasão de armas, sua presença é rara. O mais recente registro foi em 2005, no município de General Carneiro, no Sul do Estado.


No RBV:


Com a chegada desses dois exemplares, o número de harpias no RBV
passará de 14 para 16. Entre o final de dezembro de 2012 e o começo de 2013 nasceram dois filhotes no local. E essa quantidade poderá aumentar ainda mais nos próximos dias: dois ovos estão sendo chocados. Na Itaipu, a ideia de reproduzir a espécie em cativeiro surgiu em 2000, quando o RBV recebeu um macho apreendido pela Polícia Civil.

Dois anos depois, chegava a primeira fêmea. O caminho para a reprodução estava aberto. No dia 13 de março de 2006, os biólogos e veterinários avistaram o primeiro ovo. Após quatro tentativas frustradas – o embrião de um ovo morreu e outros três filhotes não sobreviveram aos primeiros dias –,nasceu no dia 15 de janeiro de 2009 o primeiro espécime mantido com sucesso pelo projeto. Na sequência, vieram os outros filhotes.


Alimentação:

Nas primeiras semanas o filhote se alimenta cinco vezes ao dia. Ao final de 24 horas, ele chega a comer de 30% a 35% do próprio peso. Por isso, cresce muito rápido.

A fase de incubação varia de 53 a 56 dias, com temperatura e umidade controladas. Depois, os filhotes são transferidos para um viveiro.


Ampliação:

O número de harpias no RBV poderia ser maior, tendo em vista que já houve cessão de aves que nasceram no local para outras unidades de recriação – como uma localizada em Campina Grande do Sul, na região metropolitana de Curitiba.


Mais de 800 animais já nasceram no RBV :

O sucesso de reprodução da harpia em cativeiro é mais um de uma
extensa lista de animais que encontraram no RBV um lugar seguro para viver e se multiplicar.

A capacidade do espaço é para abrigar cerca de 400 animais, incluindo mamíferos, aves, répteis e até anfíbios. O centro já
reproduziu mais de 800, de 42 espécies diferentes.

A reprodução em cativeiro é focada basicamente em espécies raras ou ameaçadas, como o cervo-do-pantanal (Blastocerus dichotomus), a jaguatirica(Leopardus pardalis), o veado-bororó (Mazama nana) e a anta(Tapirus terrestris).

O trabalho abrange também espécies como o marreco-ananaí (Amazonetta brasiliensis), frango-d’água(Gallinula chloropus)e
jacaré-de-papo-amarelo (Caiman latirostris).


Mymba Kuera:


O plantel do RBV começou a ser formado juntamente com o reservatório da hidrelétrica, em meados da década de 1980, na operação que ficou conhecida como Mymba Kuera – ou “pega bicho”, em tupi-guarani.

Hoje, abriga no mesmo espaço um zoológico, o Casib e um moderno hospital veterinário. A exibição de espécies da fauna e da flora da região atrai uma pequena multidão de estudantes e turistas. Há passeios guiados que saem diariamente do Centro de Recepção de Visitantes (CRV) da Itaipu, ao lado da Barreira de Controle da usina.

Somente no ano passado, 26.349 turistas cruzaram os portões do RBV – sem contar as visitas institucionais. Desde junho de 2007, até dezembro de 2011, foram quase 100 mil pessoas.

Fonte: Itaipu