A economia verde

Editoria: Vininha F. Carvalho 21/01/2013

A economia verde não é poesia, mas a possibilidade concreta de explorar os recursos da natureza causando os mínimos danos possíveis, fazendo-se um manejo responsável, evitando a poluição da água, do ar e do solo e subsolo.

É possível uma economia que siga esses princípios produzindo riquezas e condições de sobrevivência para bilhões de habitantes? Talvez sim, mas nada é muito simples.

Primeiramente há um eterno confronto entre as atividades econômicas e as ações regulatórias para a proteção ambiental. Os empresários acreditam que preservar o ambiente vai aumentar os seus custos e os clientes não vão pagar mais por isso.

A regulação, por sua vez, nem sempre atinge os seus objetivos, pois focada em normas rígidas voltadas mais para o controle e tratamento, mas não impede que os problemas de descarte, utilização ineficiente de recursos continuem. Quando a regulação é muito flexível, gera a acomodação dos agentes econômicos e pouco se faz para eliminar o problema.

Para alguns autores o problema central da poluição está na cadeia de valor das próprias empresas (Porter, 1999). Enquanto o foco continua no resultado final, ou seja, a poluição, descarte de produtos nocivos, não há solução a vista.

É preciso que as empresas lancem um olhar para o seu interior, em sua cadeia de valor e em seguida para a origem dos seus insumos (externa) onde também pode estar localizados focos de ineficiência.

Há inúmeros casos de empresas em que são identificados problemas nos processos que, corrigidos, resultam em redução ou eliminação de resíduos, além da redução dos custos, pois na maioria das vezes poluição significa desperdício de recursos.

Empresas focadas na inovação, como estratégia competitiva, conseguem corrigir problemas em seus processos, eliminando ou reduzindo o descarte de resíduos ou a necessidade de manuseio, descarte ou armazenamento de produtos.

Cito um caso de um empresário da área de ferramentaria em São Bernardo, que recebeu uma pesada multa por descartar no esgoto e solo, o óleo mineral utilizado no corte de metais. Diante do impasse, a empresa estudou uma forma de solucionar o problema e encontrou a solução quando se desviou do foco de tratamento do resíduo.

O empresário construiu sistemas de coleta do óleo nas máquinas de corte que era armazenado, filtrado e reutilizado. Com a reutilização do óleo várias vezes a empresa reduziu os seus custos e atendeu as regulações ambientais.

Esse exemplo mostra que a miopia empresarial pode ter um custo alto ao longo do tempo ao se manter a visão de que a eliminação de poluentes gera custos adicionais. Mesmo em casos em que os custos sejam altos no início da implantação, esses valores podem ser reduzidos com a curva de aprendizagem.

Porter cita o caso da indústria de papel e celulose em que o programa de redução do cloro do processo de produção tinha um custo inicial de 16 US$ por tonelada e, após cinco anos, foi reduzido para menos de cinco dólares.

Quando os programas de qualidade começaram a ser implantados nos anos 1980, muitos empresários viam esses programas como despesas adicionais e aumentos de custos dos produtos.

A visão que se tinha era a que a inspeção e controle dos processos envolviam custos adicionais com pessoas e redução da produtividade.

Hoje podemos dizer que são raros aqueles que assim pensam, pois a qualidade ao invés de ser vista como fator independente do produto passou a ser vista como parte integrante do mesmo.

Assim é possível afirmar que os programas de qualidade quando implementados de forma adequada possibilitaram, além da qualidade do produto que passa a agregar maior valor para os clientes, também a redução dos poluentes em função da utilização mais eficiente dos insumos e melhorias nos processos, resultando em economia dos insumos, energia e mão de obra.

Mas a economia verde não é apenas isso, pois há um longo caminho em sua direção. O aumento da produtividade pode representar maior consumo de produtos, resultando em maior volume de embalagens descartadas gerando impactos na natureza e para a sociedade, que necessitará aplicar cada vez mais recursos para o recolhimento, descarte e tratamento.

Fonte: Renato Ladeia é professor do Departamento de Administração do Centro Universitário da FEI