Exercite sua cidadania, promova o uso racional da água !

Editoria: Vininha F. Carvalho 24/02/2015

A pegada ecológica do ser humano, índice que mede a sustentabilidade ambiental com base na demanda de recursos naturais renováveis, aumentou em 70% desde 1970 (5% a mais do que o crescimento populacional) e é hoje de 2,2 hectares por pessoa num mundo que só dispõe de 1.8 hectares por pessoa , ou seja, consumimos 20% a mais do que temos, o capital natural está diminuindo e pode acabar. O Índice Planeta Vivo que mede tendências populacionais de espécies silvestres, mostra que em 30 anos houve uma redução de 40% na fauna.

As espécies aquáticas (água doce) reduziram-se pela metade, as marinhas em 30% e as terrestres também em 30%. Segundo o WWF, isso é provocado pela crescente demanda por alimentos, fibras, energia e água, assim como pelos métodos não sustentáveis de produção.

Componente bioquímico dos seres vivos e elemento presente em todas as etapas da evolução da civilização humana, a água compõe 70% da Terra. Apenas 3% são de água doce e, desse total, 12% estão no Brasil. A agricultura é o maior consumidor da água doce: 70% da água doce são usados para irrigação. O brasileiro tem cerca de 5% da sua pegada hidríca em casa, com consumo de água na cozinha e no banheiro, e 95% estão relacionados com o que compra no supermercado, especialmente com produtos agrícolas.

Embora o Brasil seja o país com a maior reserva hídrica do planeta, em muitas regiões já existe conflito pelo uso da água. Além disso, o crescimento da economia brasileira deve aumentar significativamente o uso da água nas diversas atividades produtivas, o que demanda uma gestão ambiental mais comprometida com a preservação deste precioso líquido.

No ano passado, preocupada com as consequencias desse problema, a Assembleia Geral da ONU aprovou uma resolução afirmando que a água e o saneamento são direitos essenciais e pediu que os governos intensificassem os esforços para sanar essas carências. Ainda segundo o estudo da ONU, o futuro sem água já não está mais tão distante quanto pensávamos, se o desperdício continuar da maneira como está, 5,5 bilhões de pessoas poderão não ter acesso à água limpa em 2025.

A maior parte da população não faz idéia da quantidade de água desperdiçada em hábitos diários, como escovar os dentes, tomar banho, lavar calçadas, jardins e carros. Um dos pontos que podemos destacar, por exemplo, seria o hábito de lavar a casa e o quintal. Para se ter uma idéia do tamanho do desperdício, uma mangueira comum de uso residencial, com três quartos de polegada, gasta 600 litros de água a cada trinta minutos, o equivalente a quinze vezes o que uma pessoa deveria consumir por dia.

A OMS ( Organização Mundial da Saúde) considera que cada pessoa precisa de pelo menos 40 litros diários de água, para beber, tomar banho, cozinhar e outras necessidades. Atualmente, mais de 1,1 bilhão de pessoas já não contam com este mínimo. No Brasil gasta-se cerca de cinco vezes mais água do que o necessário. Nosso consumo é de cerca de 200 litros por dia por pessoa. Este desperdício todo preocupa, afinal, o ser humano é capaz de ficar 60 dias sem comer, mas só resiste cinco sem água.

Precisamos encontrar formas sustentáveis, limpas, inteligentes e eficientes de usar a água para produzir energia, e também de usar a energia para produzir água potável. Diversas ações em favor do melhor uso da água têm sido colocadas em prática, mas insuficientes para garantir o abastecimento da população nas próximas gerações.

Os consumidores devem, também, se preocupar com a origem dos produtos que consomem e com os procedimentos adotados na produção .Precisamos construir um nova mentalidade , eliminando a percepção de que a água vem apenas da torneira e que simplesmente consertar um pequeno vazamento é o bastante para assumir uma atitude sustentável. Diversas são as soluções, como: fossas sépticas, fossas com filtro, sistema condominial, sistema misto, rede de esgotos, lagoa de estabilização, oxidação laminar, estação de tratamento em grau crescente de depuração, até chegar ao reaproveitamento.

O desmatamento das áreas de mananciais; o garimpo criminoso com despejo de mercúrio, a devastação das matas ciliares, os aterros e construções dentro de faixas de proteção, projetos de irrigação ou de geração de energia mal concebidos, pesca predatória, são algumas das ameaças a serem combatidas e revertidas. Todo rio tem direito à proteção de sua nascente, às suas matas ciliares. Defender os rios é um desafio de cooperação de diferentes estados, municípios, poder público e sociedade civil em comitês e agências de gestão por bacias hidrográficas.

Para evitarmos que ocorra a escassez deste líquido essencial á vida, várias medidas podem ser tomadas, entre elas está o reuso da água, que já vem sendo utilizado por muitas empresas para diminuir seus gastos e também colaborar com o meio ambiente.

A água reciclada pode ser utilizada para muitas funções, tais como:

- Irrigação paisagística: parques, cemitérios, campos de golfe, faixas de domínio de auto-estradas, campus universitários, cinturões verdes, gramados residenciais.

- Irrigação de campos para cultivos: plantio de forrageiras, plantas fibrosas e de grãos, plantas alimentícias, viveiros de plantas ornamentais, proteção contra geadas.

- Usos industriais: refrigeração, alimentação de caldeiras, água de processamento.

- Recarga de aqüíferos: recarga de aqüíferos potáveis, controle de intrusão marinha, controle de recalques de subsolo.

- Usos urbanos não-potáveis: irrigação paisagística, combate ao fogo, descarga de vasos sanitários, sistemas de ar condicionado, lavagem de veículos, lavagem de ruas e pontos de ônibus, etc.

- Finalidades ambientais: aumento de vazão em cursos de água, aplicação em pântanos, terras alagadas, indústrias de pesca.

- Usos diversos: aqüicultura, construções, controle de poeira, etc....


Em todos os índices medidos, o consumo de recursos naturais da América Latina é superior ao da Ásia, do Oriente Médio e da África. O maior consumo é da população da América do Norte, a pegada de um norte-americano equivale a de dois europeus e a sete vezes o tamanho da pegada de um asiático ou de um africano. No ranking mundial, a pegada ecológica do brasileiro fica em 60º lugar na lista de 149 países considerados no estudo. Quando se compara o consumo somente de alimentos, fibras e madeiras, no entanto, o Brasil sobe para 27º lugar. No item energia o Brasil fica em 82º lugar e em água fica em 70º lugar.

Para a ONU, problemas de postura e de comportamento estão no centro dessa crise: a inércia dos governantes e uma população que ainda não se deu conta da escala da gravidade do problema. E é essencial que os responsáveis pela aprovação de leis em âmbito municipal, estadual e federal, vereadores, deputados estaduais e federais e senadores, comecem a pensar com maior seriedade nessa questão e proponham textos legais que estimulem o uso racional da água e a captação de águas pluviais. A sociedade só terá a ganhar com essas medidas.

Fonte: Vininha F. Carvalho - diretora da Del Valle Editoria