Das salas de aula para o coração da floresta amazônica

Editoria: Vininha F. Carvalho 16/08/2011

Essa transição foi vivida, durante pouco mais de uma semana, por 18 alunos do curso de Engenharia Florestal, da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (USP/ESALQ). Com o propósito de realizar atividades práticas e aprimorar o conhecimento sobre o manejo de florestas nativas, o professor Edson Vidal, do Departamento de Ciências Florestais (LCF) capitaneou o grupo de estudantes esalqueanos durante a permanência no Estado do Pará, mais precisamente no Centro de Treinamento em Manejo Florestal Roberto Bauch, do Instituto Floresta Tropical (IFT), localizado no município de Paragominas, distante 500 km da capital Belém.

A viagem começou em 23 de julho, com um vôo Campinas-Belém. Dá capital paraense, seguiram de microônibus no dia 24 até o Centro de Treinamento pela Rodovia Estadual PA150.

A atividade faz parte da disciplina Manejo de Florestas Tropicais, ministrada por Vidal e, lá no Pará, os alunos participaram de um treinamento prático inovador, dentro da floresta amazônica.

Conheceram todas as atividades de manejo de florestas nativas tropicais, desde o planejamento inicial, levantamento do estoque de árvores, seleção de árvores a colher, planejamento de estradas e arraste, operação de arraste, romaneio e empilhamento, manejo praticado por população tradicional, manejo de produtos não-madeireiros, manutenção de estrada, bueiros e pontes etc.

Além disso, tiveram contato com diversos tomadores de decisão, vereadores, secretários de Meio Ambiente, presidente de Associações - Quilombolas, comunitárias, concessionários, entre outros.

Segundo o professor Vidal, o contato com a situação real é a melhor forma didática de repassar conhecimentos que os alunos de várias universidades brasileiras só tem de forma teórica.

“De forma geral é evidente a necessidade de termos profissionais capacitados em técnicas de manejo florestal sustentável. Assim sendo, nossos alunos não podem sair da universidade desconhecendo essas técnicas que conciliam conservação e desenvolvimento em uma das florestas mais ameaçadas do planeta”.

Vidal atribui que, pela importância que representam as florestas tropicais da Amazônia, um número razoável de estudantes de diversas partes do mundo tem visitado este ecossistema para melhorar sua formação profissional.

Quando ainda trabalhava no Imazon, uma OSCIP sediada em Belém, o professor lembra que recebia estudantes americanos e europeus, mas dificilmente recebia estudantes brasileiros.

“Na minha disciplina sempre procurei encontrar mecanismos que pudesse me apoiar a levar os alunos. Neste ano conseguimos com apoio da diretoria da ESALQ e esperamos que as próximas turmas também tenham esta oportunidade. Esta experiência irá melhorar em muito sua formação profissional e deixá-los em condições semelhante em conhecimento aos alunos das principais escolas de Engenharia Florestal do mundo”, completa.


Relatos:

Marcele Almeida da Silva é uma das estudantes que esteve no Pará. Para ela, o ponto positivo do treinamento foi a oportunidade de vivenciar as três fases da exploração da madeira.

“Essa possibilidade nos proporcionou grande enriquecimento em nosso aprendizado, que até então tinha uma base mais teórica sobre exploração madeireira de impacto reduzido”.

Segundo o estudante Frederico Domene, o fato das atividades na Amazônia serem práticas permitiu boa interação com técnicos locais.

“Assim conseguimos resolver as dúvidas em campo e pudemos aprender e refletir para aperfeiçoar as técnicas que são utilizadas no processo produtivo, ou seja, o contato com as pessoas que estão na ponta do processo produtivo foi extremamente valioso pela troca de experiências ocorrida no desenvolvimento do trabalho”. Domene lembrou ainda que o contato com o bioma amazônico tornou-se um diferencial na sua formação.

“É tão importante conhecer a realidade e peculiaridades dos biomas do Sudeste, quanto conhecer as realidades e peculiaridades da floresta amazônica, visto que o engenheiro florestal formado pela ESALQ pode atuar nos dois biomas brasileiros e provavelmente será uns dos principais tomadores de decisão dentro do trabalho.

Portanto é necessário conhecer as melhores tecnologias que podem ser utilizadas nas diversas áreas de atuação, visto que no manejo de florestas o engenheiro florestal é fundamental para a sustentabilidade do processo produtivo”.

Para Antonio Leite Florentino, estar na Amazônia foi um momento marcante. “Só de olhar para a floresta foi motivo de satisfação e reflexão, pois me fez pensar na importância dela para continuidade dos processos ecológicos, na geração de renda e cheguei até cogitar a carreira profissional ligada ao setor. Outro ponto em destaque foram as ações de campo como abertura de trilhas, instalação de parcelas permanentes de inventário florestal, atividades de corte e arraste de tora; planejamento de infraestruturas, manuseio de mapas e facilidade para localizar as árvores a serem exploradas”. Na fala do aluno, a convivência com os líderes locais também foi enriquecedora.

“Nessa experiência o que mais me chamou a atenção é o quanto o pessoal entende sobre a realidade da Amazônia, desde o ponto de vista socioambiental quanto às práticas de manejo.

Além disso, foi possível perceber que eles apresentam uma visão de Brasil mais integradora, já que valorizam o quanto é fundamental a participação de toda a sociedade brasileira para contribuir no maior desenvolvimento da região”.

O Centro de Treinamento em Manejo Florestal Roberto Bauch está localizado no município de Paragominas e conta com um acampamento com estrutura física capaz de comportar mais de 400 participantes de cursos anualmente, incluindo uma área florestal de aproximadamente 5 mil hectares na qual o IFT promove as capacitações e realiza demonstrações.

O Centro de Manejo Florestal está embebido nas áreas florestais da Cikel Brasil Verde, um empreendimento certificado de grande porte que tem sido um dos principais parceiros do IFT no cumprimento de sua missão.

Para realizar os treinamentos e demonstrações práticas em manejo florestal e exploração de impacto reduzido, o CMF está equipado com máquinas e equipamentos mantidos por outros dois de seus parceiros institucionais, a Caterpillar e a Stihl.

Fonte: Caio Albuquerque