Projetos de energia renovável farão parte da proposta brasileira no México

Editoria: Vininha F. Carvalho 05/10/2010

Os projetos de geração de energia em propriedades rurais a partir de biogás, desenvolvidos com o apoio da Itaipu Binacional na região Oeste do Paraná, deverão fazer parte do pacote de medidas que o Brasil irá apresentar na próxima Conferência Mundial do Clima, a ser realizada pela ONU no México, em novembro deste ano.

Nesta semana, a empresa recebeu uma comitiva de representantes da Embrapa e dos ministérios da Agricultura (Mapa) e do Desenvolvimento Agrário (MDA).

O grupo é responsável pela formulação da política nacional para a redução das emissões de carbono da agropecuária e passará a atuar também na divulgação do conhecimento técnico acumulado por Itaipu na geração de energia a partir do biogás produzido pela agropecuária e pelo tratamento de esgoto urbano.

Depois de uma renião do grupo com representantes da Itaipu, nesta quinta-feira, ficaram acertados três encontros ainda neste ano, no Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, com representantes de cooperativas, das federações da agricultura e demais entidades ligadas ao meio rural.

“Esses poluentes, que são geradores de diversos impactos ambientais, são uma oportunidade para criar uma nova fonte de riqueza no campo; e esse é um conhecimento que precisa ser compartilhado”, afirmou o diretor-geral brasileiro da Itaipu Binacional, Jorge Samek.

Conforme o secretário nacional da Agricultura Familiar, Adoniran Sanchez Peraci, do MDA, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumiu na última Conferência do Clima, em Copenhague, o compromisso voluntário de reduzir as emissões do Brasil em 1 bilhão de toneladas de carbono.

“Cerca de 70% desse volume está ligado ao desmatamento e o país já tem um plano em execução para combater a derrubada de florestas. Sobre os outros 30%, é importante a participação da agropecuária, principalmente a suinocultura e a avicultura, que é muito forte nos estados do Sul”, explicou o secretário.

Os dejetos da suinocultura e da avicultura, quando não são devidamente tratados, geram gás metano, um dos principais causadores do efeito estufa, e que é 21 vezes mais poluente do que o gás carbônico.

Durante a visita aos projetos da Plataforma Itaipu de Energias Renováveis, os técnicos do governo tiveram a oportunidade de conhecer um frigorífico de aves e uma granja de suínos.

“Para cada emprego direto nessas duas cadeias (aves e suínos), 10 indiretos são criados. Ou seja, se você incentiva o auto-abastecimento de energia nesse setor, o impacto social é enorme”, afirma o chefe-geral da Embrapa Suínos e Aves, Dirceu Talamini, que fez parte da comitiva.

A Unidade Industrial de Aves da Cooperativa Lar, localizada em Matelândia, conta com um dos maiores biodigestores de que se tem registro no país. O biogás produzido ali alimenta geradores que suprem a eletricidade de todo o complexo entre as 6 horas e as 22 horas, de segunda a sábado. O sistema gera uma economia de energia entre R$ 250 mil e R$ 300 mil por ano, além de uma receita anual de R$ 500 mil com créditos de carbono.

Além disso, a gestão ambiental da unidade permitiu praticamente dobrar a produção, de 140 mil para 230 mil aves abatidas/dia. Cerca de 85% dessa produção é exportada (a Lar é fornecedora, por exemplo, da rede McDonald´s na Europa).

“Até o final do ano, estaremos com um sistema que vai permitir reciclar 100% da água nesta planta industrial”, afirmou o engenheiro químico Ansberto Passos Neto, responsável pelo projeto.

O outro projeto visitado pela comitiva é a Granja Colombari, que conta com um plantel de 5 mil suínos, em regime de engorda. Os dejetos desses animais alimentam um gerador que produz de 32 mil a 35 mil quilowatts-hora/mês.

Como o consumo da propriedade é de 7 mil a 7,5 mil quilowatts-hora, a granja vende cerca de 25 mil kWh mensais para a concessionária de energia do Paraná (Copel), com uma renda mensal de aproximadamente R$ 3.500,00.

Além de se autoabastecer de energia e da renda com o comércio do excedente, a granja economiza outros R$ 1 mil por mês com a produção de biofertilizante (subproduto do processo de geração do biogás).

Projetos como o da Lar e da Granja Colombari ainda são raros no país pela falta de conhecimento técnico para a sua execução. Além disso, apesar de existir uma Norma Técnica da Aneel regulamentando esse tipo geração de energia, a Copel é a única concessionária no país que já ingressou nesse mercado. Também há desconhecimento sobre as possibilidades de crédito.

Hoje, existem duas linhas de financiamento que podem viabilizar projetos de energia renovável em propriedades rurais: o Pronaf ECO e o ABC (Agricultura de Baixo Carbono).

Fonte: Itaipu Binacional