Terra preta de índio pode auxiliar agricultura na Amazônia

Editoria: Vininha F. Carvalho 27/05/2010

Presente em várias regiões da Amazônia e altamente fértil, a terra preta de índio originou-se do processo de queima controlada feita pelos indígenas. O Inpa integra uma rede internacional que estuda o tema com a finalidade de favorecer a agricultura regional

Uma terra altamente fértil e nela, na maioria das vezes, é possível encontrar artefatos indígenas como vasos de cerâmica. Vestígios de povos que há milhares de anos desenvolveram uma técnica de trabalho com o solo que os cientistas ainda tentam desvendar.

A chamada terra preta de índio está presente em várias áreas da Amazônia. Segundo especialistas, ela é fruto do processo de queima controlada feita por indígenas da região. O que os cientistas analisam agora é de que forma os índios pré-colombianos fizeram esse processo.

Uma rede internacional de pesquisadores estuda o assunto com o objetivo de desvendar o processo usado pelos indígenas para obter uma terra altamente fértil. A ideia é usar essas informações para auxiliar o desenvolvimento da agricultura na Amazônia.

Um grupo de pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCT) e da Universidade de Michigan (EUA) fez uma visita a algumas áreas na comunidade da Costa do Laranjal em Manacapuru, interior do Amazonas. A área é utilizada há mais de 150 anos por várias famílias para o cultivo de hortaliças e espécies frutíferas.

O projeto multidisciplinar reúne várias linhas de pesquisa em áreas como etnobotânica, antropologia e geologia, tendo como base a recuperação de áreas degradadas e o desenvolvimento de agricultura familiar com segurança alimentar.

Segundo o pesquisador da Coordenação de Ciências Agronômicas do Inpa, Newton Falcão, a ideia é fazer com que os estudos permitam atingir um manejo de resíduos orgânicos como folhas, ossos e restos de alimento no solo.

“Nós temos que fazer algo no sentido de manejar esses resíduos orgânicos e começar a construir a fertilidade do solo. Acreditamos que a chamada terra mulata, que é uma transição da terra preta de índio com o solo comum, é um fruto de um manejo que os índios faziam, inclusive, usando o fogo de maneira controlada e racional”, enfatizou.

O Biochar:

O tema está em alta em todo o mundo e integra o projeto realizado pelo Inpa, um dos pioneiros mundiais na utilização da técnica. O Biochar é uma espécie de carvão feito a partir da queima em laboratório de materiais verdes. Depois de produzido, o Biochar é enterrado para a fertilização do solo. Os especialistas ainda analisam quais espécies de plantas podem ser usadas para produzir o Biochar.

Para a pesquisadora da Universidade de Michigan, Antoinette WinklerPrins, os estudos com terra preta de índio representam uma semente para o futuro em relação ao uso sustentável do solo.

“Já há várias ideias que estão em prática e que já auxiliam os pequenos produtores da região. Esse projeto é uma semente para o futuro”, disse.

WinklerPrins também realiza uma pesquisa em Santarém, no Pará, baseada na queima controlada de produtos orgânicos para a fertilização do solo. Ela explica que a análise foi feita a partir do hábito das pessoas de varrerem os quintais e depois queimarem as folhas e demais materiais orgânicos.

“O manejo de solos inclui o que chamamos de terra queimada. As mulheres que cuidam dos quintais varrem todo o material orgânico e o queimam de forma bem controlada. Os resíduos dessa queima, elas colocam ao redor das plantas e nos canteiros de hortaliças. Nós pretendemos aprofundar esse trabalho e tentar expandi-lo para outras áreas da região”, destacou.

O trabalho realizado em Santarém pela pesquisadora será apresentado durante o Seminário da Amazônia. A palestra intitulada “Terra Queimada: uma contribuição para a formação das terras pretas de índio em quintais urbanos da região de Santarém” ocorreu na quinta-feira (20/5), a partir das 16h, no auditório da Biblioteca do Inpa, localizado no campus I do Instituto na Avenida André Araújo - Aleixo.

Fonte: INPA