A educação ambiental no século XXI - retrospectivas e perspectivas

Editoria: Vininha F. Carvalho 01/02/2010

Em artigo recente do Prof. Prakki Satyamurty – ex Presidente da Sociedade Brasileira de Meteorologia – o autor enfatiza a necessidade de mudanças profundas no processo de definição das alternativas propostas para a reversão dos efeitos das mudanças climáticas.

Segundo tese defendida pelo autor do artigo, o princípio do desenvolvimento sustentável não é mais o caminho único para enfrentar as mudanças climáticas, tornando-se inevitável a redução drástica do consumo de recursos naturais e um eficaz programa de controle da natalidade. Ou seja, segundo o pesquisador, já passamos da fase do “desenvolvimento” sustentável; a hora agora é do “consumo sustentável”.

Por outro lado, neste caso analisando a posição das maiores economias mundiais, observa-se uma nítida preocupação com a crise financeira (através da definição de propostas inovadoras e ambiciosas), porém com um discurso vago e breve em relação à problemática ambiental.

Porém, entre o contexto limite das visões dos pesquisadores e dos políticos, persiste uma análise de idêntica importância, ainda não suficientemente abordada, voltada a saber como a sociedade está preparada para pressionar por soluções proteladas, aceitar as conseqüências da adoção das mesmas e, sobretudo, como nossos futuros gestores (no horizonte do curto e médio prazos) estão preparados não apenas para implementar as propostas conhecidas, mas para gerar novas e efetivas respostas para o cenário que a sociedade deverá enfrentar, já que o tempo, neste novo contexto, é uma variável progressivamente mais crítica.

Se agregarmos a este cenário os resultados do estudo desenvolvido pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (2006), que mostra que 37% dos alunos brasileiros com 15 anos de idade - a pesquisa foi realizada em 57 países em diferentes continentes - apresentam um nível mínimo de conhecimento ambiental, ficando abaixo da avaliação do Brasil apenas países como Catar, Quirquistão e Azerbaijão, tal fato coloca os jovens do Brasil sem o conhecimento mínimo necessário para lidar com os desafios ambientais.

Ou seja, a pesquisa deixa claro (inclusive no Brasil) que os estudantes estão preocupados e conscientizados de que é preciso agir (ponto positivo), entretanto não evidenciam condições plenas de assumir seu papel no processo da ação desejada.

O estudo infere, entre outros pontos, que os estudantes falam muito sobre temas ligados à área ambiental, mas parece saber pouco a respeito do assunto.

Tendo estes aspectos em foco, em 2003 foi criado o Núcleo de Estudos em Percepção Ambiental / NEPA, voltado especificamente a estudar o nível de percepção ambiental e social de segmentos formadores de opinião, priorizando às áreas educacional e ambiental. Desde então o NEPA vem consolidando um significativo banco de dados gerado a partir de pesquisas desenvolvidas com estudantes e professores dos ensinos fundamental, médio, médio-técnico e superior, assegurando o conhecimento efetivo do perfil de cidadania ambiental de tais segmentos.

Como decorrência da análise deste banco de dados, em 2006, o NEPA fez a proposição da criação do ENADE AMBIENTAL (não compulsório, de iniciativa das próprias instituições de ensino superior), voltado a identificar e quantificar as lacunas do conhecimento ambiental de estudantes ingressantes e concluintes, propiciando aos gestores educacionais e aos gestores públicos informações que propiciem a definição de ações preventivas e corretivas que assegurem um mínimo nível de conhecimento ambiental com que tais futuros gestores devam chegar ao mercado de trabalho.

Neste momento o NEPA já conta com pesquisas específicas de aplicação do instrumento a estudantes dos cursos de Administração e Engenharias, e, em andamento, com estudantes de Direito e Arquitetura e Urbanismo.

Tudo isso nos leva a caracterizar a necessidade de uma reavaliação profunda – retrospectiva – da Educação Ambiental no Século XX, tendo em conta – perspectiva – aquilo que deverá ser definido como novos paradigmas para a Educação Ambiental do Século XXI.

Não que isso seja entendido como uma identificação de erros – dado que na realidade não erramos na forma como até então vínhamos encaminhando o processo de Educação Ambiental - mas sim de reconhecer e assumir que posturas que até então vinham sendo aceitas como válidas, precisam passar por uma profunda reflexão, projetando o que deverá ser a Educação Ambiental no Século XXI.

Pensar, por exemplo, em estruturar programas de Educação Ambiental sem um diagnóstico prévio da percepção ambiental e social do segmento a ser atendido, bem como não dispor de formas de pós avaliação da eficácia dos resultados de tais programas, não poderão mais constar das premissas para as novas intervenções.

Ou seja, não basta “oferecer Educação Ambiental”; há que se ter certeza que estamos realmente “mudando a percepção ambiental da sociedade” (conscientização, exame crítico e desenvolvimento da cidadania).

Não há como protelar esta reflexão; se não a iniciarmos de imediato, com muita certeza não teremos tempo hábil para evitar o que parece ser inevitável à luz da atual conjuntura.

Poder Público e empresas, cada um na sua área de atuação – gestores e financiadores de Programas de Educação Ambiental - devem fazer – isoladamente e em conjunto – esta reflexão.



Fonte: Roosevelt S. Fernandes, M. Sc. - Membro dos Conselhos Estadual de Meio Ambiente e do Estadual de Recursos Hídricos (ES).Coordenador do curso de Engenharia de Produção Civil da UNIVIX (Vitória – ES), além de criador e coordenador do NEPA - UNIVIX