Uma viagem ao passado na Costa da Mata Atlântica

Editoria: Vininha F. Carvalho 24/09/2009

Tão rica em história quanto em praias convidativas, a região atualmente intitulada Costa da Mata Atlântica, a nova Baixada Santista, no litoral paulista, oferece aos visitantes atrativos únicos que permitem um resgate das "raízes". Composto pelos municípios de Bertioga, Cubatão, Guarujá, Itanhaém, Mongaguá, Peruíbe, Praia Grande, Santos e São Vicente, o circuito turístico exibe em meio à paisagem natural e modernas edificações alguns dos principais marcos históricos e culturais do Brasil.

Conhecida como berço da democracia nacional, São Vicente foi a primeira vila brasileira e abrigou as primeiras eleições populares das Américas e a primeira Câmara de Vereadores. A cidade traz entre suas atrações uma memorável viagem no tempo com o Parque Cultural Vila de São Vicente. Lá está reproduzido o modo de vida do início da colonização do Brasil.

Ainda há a Biquinha do Padre Anchieta, construída em 1553 com a vinda dos jesuítas e cuja lenda conta que a água do local é milagrosa e pode curar enfermidades.

Além disso, os visitantes podem conhecer a antiga Fortaleza de Pedra que serviu de morada para o navegador português Martim Afonso, durante suas expedições.

Município vizinho, Praia Grande exibe por três quilômetros a centenária Fortaleza de Itaipu, fundada para proteger o estuário do Porto de Santos. O marco da engenharia militar oferece exuberante vista da Mata Atlântica.

Já Mongaguá, que vem logo na sequência, tem destaque para a fé, que é retratada na imagem de Nossa Senhora Aparecida encontrada no mirante do Morro dos Macacos. Ao contar a história do município é preciso fazer uma referência, ainda que breve, ao "Hotel Clube Marinho".

Durante muitos anos o prédio foi a única hospedaria e bar entre São Vicente e Itanhaém, tornando-se centro de convergência de famílias que buscavam um recanto encantador. Políticos, homens de negócios, banqueiros e boêmios também se hospedaram no Hotel Clube Marinho, que teve como um de seus mais ilustres hóspedes, o imortal Ruy Barbosa.

Aliás, Itanhaém é um importante ponto para os amantes da história. Palco de lutas e batalhas desde a época de sua Capitania Hereditária, a cidade é a segunda vila mais antiga do País e registra momentos de pura arte por meio das obras de seu filho mais ilustre, o pintor Benedicto Calixto.

Um dos pontos turísticos mais visitados da cidade é a Cama de Anchieta, uma formação rochosa encravada entre o costão da Praia dos Sonhos e o mar.

Segundo a lenda, o beato José de Anchieta, em suas peregrinações por Conceição de Itanhaém, costumava descansar e obter inspiração para as suas anotações, que, naturalmente, devem ter servido de direção para o poema de Virgem. O acesso é feito por trilhas entre as rochas. Observe-se que as pedras são escorregadias e o passeio deverá ser feito com cuidado.

A próxima cidade para quem segue a revitalizada rodovia Padre Manoel da Nóbrega - recentemente duplicada - Peruíbe reserva surpresas. Além de inúmeras belezas naturais, espalhadas por suas praias, rios e montanhas, município abriga sítios arqueológicos, como sambaquis, e as ruínas de uma igreja jesuíta do século XVI, as Ruinas do Abarebebê. Na zona rural, também se encontram rios, cachoeiras e pesqueiros.

Outro destino crucial para se desvendar um pouco da nossa história e para quem quer se aventurar em terras indígenas é Bertioga, onde é possível retornar às raízes com uma visita aos índios guaranis que estão na Aldeia Rio Silveiras. Durante o início da colonização no século XVI, a região era considerada de transição entre o território tupinambá de Cabo de São Tomé (Rio de Janeiro) até o rio Juqueriquerê (Caraguatatuba-SP); e o território dos tupiniquins, das cercanias de São Vicente, passando por Itanhaém e Peruíbe, até Cananéia. Bertioga é, também, o berço do mais antigo forte do Brasil e o melhor preservado entre todos os que foram tombados pelo Governo do Estado, também é o primeiro de arquitetura militar construído no País.

O Forte de São João foi erguido em 1532, para defender as vilas de Santos, São Vicente e São Paulo de ataques de inimigos e indígenas. No local, encontram-se artefatos, réplicas de espadas, arcabuzes, canhões, armamentos utilizados pelos portugueses no século 16 e várias salas temáticas que contam passagens de José de Anchieta pela região, do artilheiro alemão Hans Staden e um espaço que recria como vivia uma família tupiniquim no século 16, com esculturas em tamanho natural.

Há também uma sala com artesanatos indígenas trazidos pelos próprios participantes da Festa Nacional do Índio, que acontece anualmente na cidade com representantes de várias etnias do Brasil.

Na área do entorno, fica o Parque dos Tupiniquins, onde é possível ver a estátua do Cacique Cunhambebe que selou a paz entre os portugueses e os índios. Bertioga ainda oferece uma visita às cerca de 70 casas de arquitetura inglesa do século XIX da Vila Itatinga. É lá, também, que está a hidrelétrica que garante, desde 1910, a energia do Porto de Santos. Uma obra impressionante.

Considerado o maior da América Latina, o Porto de Santos é hoje principal responsável pela dinâmica econômica da cidade de Santos e de toda a região da Costa da Mata Atlântica, especialmente pelo seu vetor histórico-cultural. É nele que está o Complexo Cultural que guarda documentos e imagens que preservam a história local. A região ganhou bastante destaque graças ao bonde turístico cujo trajeto de 5 quilômetros exibem o melhor da arquitetura e curiosidades do passado.

Tudo começa na Praça Mauá, onde se encontra o Palácio José Bonifácio. O roteiro passa ainda pela rua XV de Novembro, que na época áurea do café era conhecida como Wall Street Brasileira por conta da Bolsa de Café, na qual a Sala de Pregões - iluminada por magníficos vitrais - comerciantes combinavam o preço e a qualidade do produto, sentados em cadeiras de jacarandá.

Paisagens santistas pintadas por Benedicto Calixto cobrem uma das paredes. O prédio da Bolsa abriga um museu e uma cafeteria, onde se saboreia e vende o verdadeiro café brasileiro tipo exportação. De fato, Santos é um destino bem-estruturado que traz uma gama de opções para quem quer voltar ao passado.

Ponto de passagem obrigatório entre os colonos, Cubatão é, hoje, importante Pólo Industrial de reconhecimento internacional. A região funcionava como ponto de transbordo, carga e descarga por conta da ligação que estabelecia entre o planalto e o litoral sul.

A atração principal é passar pelos monumentos construídos em 1922 pelo então presidente Washington Luiz para comemorar o Centenário da Independência e que revelam parte significativa da formação paulista. São eles, o Cruzeiro Quinhentista que foi construído na ligação entre o Caminho do mar com o Caminho do "Padre José" (caminho inexistente hoje); o Rancho da Maioridade que relembra a construção da Estrada da Maioridade e a visita da família real à São Paulo em 1846; a Calçada do Lorena, estrada de ligação mais importante entre o Planalto de Piratininga e o porto de Santos no final do século XVIII e a escola Ary de Oliveira Garcia que possui uma história muito interessante, pois em seu passado já foi um conservatório de música e dança e até mesmo um fórum.

Conhecida como "Pérola do Atlântico", Guarujá também é repleta de atrativos que nos remetem à sua história e encantam pela beleza. Os fortes, construídos para proteger as cidades litorâneas do ataque de piratas, são hoje um dos principais pontos turísticos da região.

Entre os que mais impressionam são o Forte dos Andradas e a Fortaleza de Santo Amaro da Barra Grande. O primeiro foi construído em 1934 pelo tenente coronel de engenharia João Luiz Monteiro de Barros e inaugurado em 1942, quando constituiu-se a principal defesa da entrada da baía de Santos ao sul da Ilha de Santo Amaro.

Já a Fortaleza de Santo Amaro da Barra Grande está localizada entre as praias do Góes e Santa Cruz dos Navegantes e é um monumento histórico-militar edificado no século 16, durante o domínio espanhol, com o objetivo de defender a Vila de Santos de ataques corsários de piratas. Entre os acessos mais utilizados para a Fortaleza da Barra Grande estão as embarcações que partem da ponte dos práticos Edgar Perdigão, na Ponta da Praia e, após atravessarem o canal de entrada do porto e partindo do Centro do Guarujá.

De fato, toda a região da Costa da Mata Atlântica é uma verdadeira máquina do tempo que com certeza renderá diversas histórias para contar quando voltar para casa.

Fonte: Rafael Serato