Alternativa para amianto abre novas possibilidades para a indústria de fibrocimento

Editoria: Vininha F. Carvalho 07/05/2009

Depois de quase cinco anos de pesquisa e desenvolvimento, e de um investimento que superou os R$ 7 milhões, a Radici Fibras, de São José dos Campos(SP), começa a produzir este mês a Raditeck, fibra acrílica de alta performance que vai oferecer ao mercado brasileiro uma alternativa segura e economicamente viável ao amianto, produto considerado cancerígeno e já proibido em cerca de 50 países e em vários Estados brasileiros.

Em cerimônia a ser realizada na próxima sexta-feira, dia 8 de maio, a partir das 11 horas, em sua unidade industrial no bairro de Santana, em São José, a Radici dará início à produção da fibra, em volume que inicialmente poderá atender a 25% da demanda do mercado nacional, a preços altamente competitivos.

O prefeito joseense Eduardo Cury e seus secretários José de Mello Corrêa (Desenvolvimento Econômico e da Ciência e Tecnologia) e Mário Sarrafi (Planejamento Urbano) já confirmaram presença.

Também devem estar presentes o superintendente da Área de Inovação para a Competitividade Empresarial da FINEP, Luiz Antonio Coelho Lopes, e o deputado estadual Waldir Agnello, primeiro vice-presidente da Assembléia Legislativa de São Paulo.

O início da produção da fibra Raditeck coloca à disposição da indústria de peças de fibrocimento (telhas, caixas d’água e outros) uma nova possibilidade de desenvolvimento. As peças produzidas com amianto vêm encontrando dificuldades cada vez maiores para comercialização, tanto em função do aumento do rigor da lei como da própria disposição do consumidor em evitar o contato com o produto.

Embora proibido em dezenas de países há pelo menos duas décadas e apontado por organizações internacionais como cancerígeno, o amianto continua sendo usado em diversos estados brasileiros, especialmente na construção civil.

A insistência na utilização do produto se deve ao seu baixo custo e características técnicas favoráveis, mas há um crescente movimento de oposição a ele na sociedade brasileira. Diversas construtoras, por exemplo, já se recusam a utilizar em suas obras telhas, caixas d’água e outras peças de fibrocimento que contenham amianto, pois sabem que, se não o fizerem, vão enfrentar a resistência dos compradores dos imóveis.

Da mesma forma, é cada vez maior o número de governos estaduais e municipais que vêm adotando restrições legais ao uso do amianto.

Até agora, as aparentes vantagens econômicas e técnicas do amianto vinham se sobrepondo aos seus efeitos negativos sobre a saúde pública e impedindo,por falta de demanda, o desenvolvimento de alternativas seguras. A situação, no entanto, já começou a mudar.

DECISÃO DO SUPREMO:

No Estado de S. Paulo, o uso do amianto em qualquer produto havia sido proibido pela lei estadual 12.684, de 2007. Os efeitos da lei, no entanto, haviam sido suspensos por liminar concedida pelo ministro do STF Marco Aurélio Mello em ação direta de inconstitucionalidade impetrada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria (CNTI). Em decisão recente, porém, o STF considerou a lei constitucional, validando a proibição.

Joaquim Barbosa, um dos ministros que votaram pela proibição, citou estudos científicos que comprovam a existência de doenças relacionadas ao uso do amianto e afirmou que a lei paulista está respaldada pela Convenção 162 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), um compromisso assumido pelo Brasil, no âmbito internacional, para resguardar os trabalhadores do contato com o produto.

ATAQUE À SAÚDE:

A mortalidade por doenças causadas pelo amianto no Brasil foi tema de uma pesquisa conduzida pelo Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana (Cesteh), da Fiocruz, com financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O trabalho mostrou que, de 1980 a 2003, mais de 2.400 pessoas morreram em decorrência do mesotelioma, câncer quase exclusivamente causado pela exposição ao amianto.

Ao longo dos 23 anos estudados, a mortalidade por mesotelioma foi crescente: houve 50 óbitos em 1980, contra 179 em 2003 – e os números podem estar subestimados, principalmente devido à dificuldade de diagnóstico. O maior número de mortes foi registrado nas regiões Sul e Sudeste. São Paulo e Rio de Janeiro foram os estados com mais óbitos no período estudado: 691 e 422, respectivamente.

PRESENÇA MUNDIAL:

A Radici Fibras é uma empresa de capital privado pertencente a uma família italiana, que no segmento de fibras sintéticas utiliza matéria-prima e mão-de-obra nacionais. A família Radici é proprietária do RadiciGroup, criado em 1946 como uma indústria têxtil.

O RadiciGroup tem sede em Bérgamo, na Itália, e está presente também nas indústrias química, de plásticos e fibras, além de têxteis. Mantém 40 fábricas em diferentes países e emprega cerca de 6.700 pessoas.

A empresa chegou ao Brasil em 1997, instalando a sua planta de plásticos de engenharia e, em 1998, adquiriu a carteira de ativos de outro player local. No mesmo ano, o grupo adquiriu a planta de fibras acrílicas da Rhodia em São José dos Campos.

Em 2007, o grupo faturou, em todo o mundo, 1,43 bilhão de euros. Está presente na maioria dos países europeus, nos Estados Unidos, na Ásia e na Argentina, além do Brasil.



Fonte: Marcos Garcia de Oliveira / MGO Comunicação