Projeto de leitura muda a vida dos moradores de reserva extrativista no Amapá

Editoria: Vininha F. Carvalho 23/06/2009

Uma parceria entre o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e a a ONG Nossa Casa vem contribuindo para ampliar os horizontes culturais das comunidades residentes na Reserva Extrativista (Resex) do Cajari, no Amapá.

Pelo projeto, moradores intercalam a colheita da castanha, do palmito e do açaí com a leitura de livros, o que tem gerado uma importante transformação cultural em suas vidas.

A iniciativa, conduzida pelos ativistas da Nossa Casa, chama-se Barca das Letras e faz parte do projeto Arca das Letras, do MDA. Essa ação consiste em instalar pequenas bibliotecas nas regiões mais longínquas do país, nas quais os livros são dispostos num tipo de arca. Treze comunidades do baixo e médio Cajari já estão sendo beneficiadas pelo projeto. Seis delas receberam as obras do MDA e o restante da Nossa Casa.

O nome Barca das Letras tem uma explicação. O diretor da ONG Nossa Casa, Jonas Banhos, conta que observou muitas barcas abandonadas pelas comunidades e imaginou que poderia aproveitar aquela estrutura para armazenar os livros.

“Então, adaptamos as velhas embarcações e as transformamos em bibliotecas para tornar a iniciativa mais familiar ao modo de vida das pessoas. Afinal, os barquinhos são o principal meio de transporte aqui.”

Segundo Banhos, essa iniciativa é muito produtiva devido à parceira com o ICMBio, por intermédio da administração da Resex do Cajari.

“A região é de difícil acesso. Se não tivéssemos tido total apoio do Instituto, esse trabalho seria completamente inviável. Hoje, já temos mais 70 leitores assíduos em locais onde inexistiam produtos culturais”, diz ele.

A analista ambiental Cristiane Gois, que atua na Resex, conta que, ao saber da novidade, as comunidades locais ficaram empolgadas. “Nas reuniões que antecederam a entrega, quando foram estipuladas as localidades que seriam atendidas nessa primeira etapa, podíamos notar a felicidade em cada rosto”, comenta.

Ela faz questão de ressaltar que são os próprios moradores que cuidam dos livros, das anotações de empréstimos e da disseminação da leitura entre todos. Cristiane detalha ainda que todos os títulos são lidos, sem distinção.

"São livros didáticos, fonte de pesquisa em temas variados, infantis, contos, poesias e afins", diz ela.

Tanto Jonas Banhos, da ONG, quanto Cristiane Gois e demais integrantes da administração da Resex do Cajari, estão muito animados e já programam a segunda fase do projeto. As ações previstas abrangem a ampliação do Arca e do Barca das Letras para outras regiões da Reserva, além de um programa de inclusão digital.

“Existem muitas cooperativas na reserva, e quanto mais informações essas pessoas conseguirem, mais lucrativos serão os trabalhos delas”, pondera Cristiane.

Banhos destaca que esse ânimo em continuar dando assistência aos extrativistas é reação ao fato de serem tão bem recebidos pelas comunidades.

“Agora mesmo estamos voltando lá para levar a eles uma mostra de cinema. As pessoas ficam animadíssimas ao terem o primeiro contato com a Sétima Arte. A gente fica mais ainda, por sentir o valor que essas ações têm”, conclui.

Curiosidade:

O Arca das Letras já vem sendo implementando em várias regiões do Brasil, sobretudo aquelas onde o acesso à cultura é mais difícil, como áreas de quilombolas, de agricultura familiar ou de difícil acesso, o que é o caso da Resex do Cajari.

O programa foi criado em 2003 pela Secretaria de Reordenamento Agrário, do Ministério do Desenvolvimento Agrário. Cada biblioteca possui cerca de 220 títulos, frutos de doações. Atualmente são quase seis mil instaladas em todos os estados do país.

Fonte: Insituto Chico Mendes