Brasil caminha na direção oposta ao desenvolvimento sustentável energético

Editoria: Vininha F. Carvalho 16/04/2009

Chegar em casa, acender a luz, abrir a geladeira, tomar um banho quente, ligar a TV, o som, o computador... São atitudes e atividades que estão inseridas em nosso cotidiano e sequer paramos para pensar nelas.

O uso energético que hoje temos é infinitamente superior ao de nossos avós e até mesmo de nossos pais. A inovação e o avanço das ciências e da tecnologia permitiram que a indústria crescesse e passasse a produzir em maior escala, reduzindo o custo de bens de consumo duráveis e não duráveis, tornando-os também acessíveis a uma grande parcela da população.

Dessa forma, tanto a produção quanto o uso desses bens requer o uso de energia elétrica. Eis aqui o início de nossa reflexão: a questão energética.

O uso de matrizes energéticas que têm por base os combustíveis fósseis é o grande responsável pela emissão de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera, que provoca o efeito estufa, que por sua vez gera o aquecimento global e, consequentemente, surgem as mudanças climáticas.

O Protocolo de Kyoto determinou que os países signatários industrializados reduzissem até 2012 suas emissões de carbono em 5,2% em relação aos níveis de 1990. Hoje negociam a redução de 18% até 2017 e 30% até 2022.

Atualmente, cerca de 80% da demanda energética global é atendida por combustíveis fósseis. Tanto para movimentar veículos, indústrias e seus maquinários, quanto para promover o aquecimento, principalmente nos países de invernos rigorosos. Entretanto, o uso demasiado leva à exaustão desses recursos, que são finitos.

A energia nuclear, apesar de produzir pouco CO2 e eliminar vapor d’água em suas chaminés, acarreta múltiplas ameaças às pessoas e ao meio ambiente. Dentre elas, incluem-se os impactos ambientais da mineração, processamento e transporte de urânio, o risco da proliferação das armas nucleares, o insolúvel problema do lixo nuclear e a ameaça constante de acidentes graves.

O IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change ou Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) alerta que um programa de construção de reatores rápidos, que utilizam plutônio como combustível, representa uma grave ameaça à segurança global.

O lixo nuclear, mesmo que enterrado a grandes profundidades, libera radioatividade no meio ambiente. O resíduo nuclear mais perigoso produzido por uma usina é a sobra de um combustível usado no processo de geração de energia pelos reatores nucleares. Esse dejeto, altamente radioativo, mantém-se assim por centenas de milhares de anos.

O Brasil caminha na direção oposta ao desenvolvimento sustentável energético ao aprovar, no dia 26 de junho de 2007, a continuidade das obras de Angra 3, paradas desde 1986. Se as obras começarem neste ano de 2009, só em 2013 ela começará a gerar energia, a um custo projetado de R$7,2 bilhões e capacidade de 1350 MW, ou seja, cerca de R$140 por MWh (Mega Watt hora).

O governo defende o projeto dizendo que o Brasil precisaria estimular o conhecimento nessa área e buscar alternativas de geração de energia no longo prazo a partir de 2025, quando as melhores opções de construção de hidrelétricas já terão se consumado.

Nosso país possui mais de 8.000 km de litoral, a maior parte de suas terras encontra-se na zona intertropical, apresenta em seu território uma enorme rede hidrográfica, além de quê, a biomassa oriunda do lixo ou de materiais residuais de baixo, médio e alto custo estão disponibilizados por todo o país. Assim, deve-se pensar que a energia renovável é uma opção real e pode ser aplicada ao nosso território.

O nosso extenso litoral permite tanto a instalação de usinas de energia eólica quanto solar. A radiação solar é mais do que suficiente para satisfazer a demanda por sistemas de energia que possam ser usadas para produção energética, aquecimento ou resfriamento. Não é só no litoral que se podem instalar pequenas usinas para geração de energia que utilizam a luz solar. O sol aquece o país o ano inteiro, portanto não há empecilhos para sua instalação em todo o território nacional.

Não há justificativas plausíveis para o término da construção de Angra 3, usina que causa tantas controvérsias em todos os setores da sociedade. Por que insistir em um projeto de custo elevadíssimo, cuja aprovação se deu sem a representação do cidadão brasileiro especialista em energia e das universidades – cadeiras vagas no CNPE (Conselho Nacional de Política Energética) desde 2002?

O Brasil não pode caminhar na contramão da história. Sua imensidão territorial permite-lhe o uso de uma variada gama de fontes energéticas renováveis, podendo alavancar seu desenvolvimento econômico sustentável, além de torná-lo líder e referência mundial no novo cenário que se desenha.

Assim, a questão ambiental é também uma questão política e pessoal-cidadã. Ao optarmos por este ou aquele abastecimento energético em nossas residências, empresas ou indústrias, estamos contribuindo ou não para a mitigação do aquecimento global. Por isso, ao chegar em casa, pense na energia que está usando, o tipo adotado e o que você pode fazer para não prejudicar a si e às gerações futuras.



Autoria: Etienne Antonia Ferro Duarte de Oliveira – professora de Geografia do Colégio Módulo. Historiadora, Geógrafa, Coordenadora de Meio Ambiente, especialista em Educação Ambiental.

Fonte: Daniel Agrela / Cia da Informação