Harpia está pronta para a soltura

Editoria: Vininha F. Carvalho 06/04/2009

“Esse projeto trará muitos subsídios para outros projetos ambientais”. Com esta afirmação, o pesquisador Roberto Azeredo, presidente da Crax – Sociedade de Pesquisa da Fauna Silvestre definiu a importância do Projeto Harpia na Mata Atlântica, na Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Estação Veracel.

O Crax é uma fundação que trabalha na reprodução de aves da fauna, em especial da Mata Atlântica, para reintrodução na natureza. Por isso foi convidado a conhecer de perto os resultados obtidos pela equipe do Projeto Harpia e dar seu parecer sobre as condições de soltura da ave em cativeiro desde 1997. O pesquisador se surpreendeu com a magnitude do trabalho realizado.

O projeto vem sendo desenvolvido desde 2004, com o objetivo principal de readaptação da harpia (ou gavião-real - maior ave de rapina das Américas) à vida selvagem. Esta será a primeira harpia do mundo que retornará a natureza depois de ter vivido durante anos em cativeiro.

Para Azeredo, as informações já conseguidas até o momento com o projeto justificam todo o processo. “Esta soltura, a primeira que tenho conhecimento na área de Mata Atlântica, irá dar respostas sobre a viabilidade de fazer a devolução ao habitat natural de outros animais que tenham permanecido por muito tempo em cativeiro”, destacou Azeredo.

O gavião-real vive num cativeiro construído especialmente para ele na RPPN, desde quando foi entregue por fiscais do Ibama, após ser resgatado na região. Em 2004 foi avistado outro gavião-real na Estação, o que despertou o interesse para que fosse realizada a soltura da ave que vivia em cativeiro.

Desta forma, surgiu o Projeto que é financiado pela Veracel Celulose SA e desenvolvido de forma integrada pelos pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Amazônicas (Inpa), Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Ibama, Associação Brasileira de Falcoeiros e Preservação de Aves de Rapina (ABFPAR), SOS Falconiformes, Crax e RPPN Estação Veracel.

Roberto Azeredo esteve no dia 25 de março na RPPN, a convite dos pesquisadores do projeto, com o objetivo de avaliar as condições dessa harpia que está sendo reabilitada para a soltura.

“Nada do que vi aqui merece crítica. Esta ave pode ser solta na natureza a qualquer momento”, avaliou o pesquisador. A previsão para a soltura é junho deste ano. Esta será a segunda harpia adulta a ser monitorada, via satélite, no Brasil. A primeira também faz parte do Projeto Harpia na Mata Atlântica desde maio de 2008, sob monitoramento dentro da área do Parque Nacional Pau-Brasil, em Porto Seguro.

RPPN:

Há dez anos foi criada a Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Estação Veracel. São 6.069 hectares de mata nativa preservados, entre os municípios de Santa Cruz Cabrália e Porto Seguro. A área foi reconhecida pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) como RPPN, ou seja, uma área particular perpetuada com o objetivo de conservar a biodiversidade e promover a educação ambiental.

Além de ser a maior reserva particular de Mata Atlântica (MA) do Brasil, segundo o Governo Federal, a Estação Veracel foi considerada pelo Conselho de Manejo Florestal FSC (Forest Stewardship Council) como uma área de alto valor de conservação, por abrigar expressiva reserva de MA, com proteção a fontes de água e por ser hábitat de diversas espécies de animais endêmicos e vegetais ameaçados de extinção. Todas essas características também garantiram à RPPN Estação Veracel o reconhecimento como Sítio do Patrimônio Mundial Natural, conferido pela Unesco.

Até o momento, já foram catalogadas na Estação Veracel 445 espécies de animais vertebrados, das quais 37 ameaçadas de extinção e 54 endêmicas da Mata Atlântica do sul da Bahia. Na área, já foram vistos grandes mamíferos, como onça, jaguatirica, veado-mateiro e anta. Além de Aves como a harpia (maior ave de rapina das Américas), o macuco, o beija-flor balança-rabo-canela e o papagaio chauá (espécie ameaçada de extinção).

A diversidade arbórea também é grande na Estação, que se destaca entre as 20 áreas de maior diversidade de espécies de árvores do mundo. São 308 espécies, incluindo exemplares centenários de pau-brasil, jacarandá, pequi-preto e jatobá.






Fonte: Eduarda Toralles / RP1