Prevenir para não parar !

Editoria: Vininha F. Carvalho 02/10/2008

O caótico trânsito da cidade de São Paulo, que virou tema nacional, não surgiu do dia para noite. É o resultado de quase cem anos de crescimento vigoroso, desencadeado pela industrialização, a partir do início do Século XX. Os paulistanos já viviam o drama dos engarrafamentos diários mesmo antes do atual boom da indústria automobilística brasileira, alimentado pelo aquecimento econômico e a facilidade de crédito, que acabou agravando ainda mais o problema.

Na verdade, a maior cidade brasileira e uma das mais populosas metrópoles do mundo está pagando amargo preço pela falta de planejamento, que deveria ter sido feito há pelo menos 60 anos. Cresceu desordenadamente, não iniciou em tempo hábil a construção de seu metrô, tem uma rede ferroviária municipal e regional muito reduzida e poucas vias para escoamento rápido de ônibus circulares.

Agora, adequar o espaço urbano à necessidade de transporte e movimentação de 11 milhões de habitantes do município e quase 16 milhões na Região Metropolitana é um desafio quase inviável, a começar pelos investimentos necessários, dado o valor estratosférico do dinheiro que teria de ser mobilizado.

São Paulo está arcando com a falta de experiência do Brasil, no século passado, na gestão de megacidades. Na Europa, onde grandes centros urbanos existiam há mais tempo, houve melhores condições de planejamento e adequação. Errar é humano, mas repetir idêntico equívoco, no mesmo país, é desumano, em especial quando se trata de algo com impacto negativo direto na qualidade da vida de toda uma população. Assim, o exemplo paulistano deve servir de alerta aos municípios emergentes do Brasil, como Rio Branco, onde o trânsito se transforma em problema.

A frota da cidade chegou a 80 mil veículos, para um total de 100 mil lacrados em todo o Acre. O crescimento econômico do Estado, somado ao aquecimento do mercado automotivo nacional, vem resultando num número expressivo: 1.200 novos veículos por mês, o que significa média de 14.400 por ano. Se fizermos uma projeção para dez anos, a frota estadual mais do que duplicará no período, e a estrutura viária de Rio Branco já está ultrapassando a sua capacidade de assimilar o volume atual. Há oito anos, eram apenas 35 mil veículos, multiplicados por três desde então.

São muito bem-vindos o crescimento da economia brasileira e o bom nível de desenvolvimento registrado no Acre, incluindo suas conseqüência positivas, como o aumento da frota de veículos. No entanto, devemos nos preparar para isso, evitando cair na mesma armadilha de São Paulo. É preciso prevenir, para evitar que o trânsito já complicado da Rio Branco de hoje não se transforme em fator de total paralisação da Rio Branco de amanhã.

Uma das mais importantes medidas preventivas é a educação para o trânsito, de modo que todos respeitem a sinalização, limites de velocidade e regras de civilidade, como não fechar cruzamentos, respeitar sua vez, não forçar passagem e não andar na contramão. Esta postura cidadã contribui para que o trânsito flua melhor e se reduza o número de acidentes, que é crescente e muito alto no Estado (5.171 em 2007, sendo 124 com vítimas fatais, contra 4.650 em 2006, dos quais 80 tiveram vítimas fatais).

Os números relativos às frotas e acidentes, que são dados oficiais do Detran, evidenciam que também precisamos investir muito no transporte coletivo urbano, incluindo veículos rápidos sobre trilhos e corredores de ônibus. Esta é a principal alternativa voltada a preparar Rio Branco para o crescimento populacional e econômico.

A experiência de numerosas metrópoles, em todo o mundo, indica que transporte público confortável, seguro e rápido é a única alternativa capaz de convencer os cidadãos a deixarem o carro em casa durante a semana. É importante, mas não basta a construção de avenidas mais largas, como as que têm sido implantadas aqui na Capital. Tais obras, isoladamente no contexto urbano, acabam incentivando o uso do carro próprio. É preciso combiná-las com o incremento do transporte coletivo.

Ademais, os investimentos em infra-estrutura ferroviária e de corredores de ônibus, que podem até mesmo ser realizados no âmbito das Parcerias Público-Privadas (PPPs), certamente significariam a injeção de vultosos recursos na economia acreana, com a multiplicação de empregos e geração de renda. É preciso pensar de modo rápido em tudo isso, antes que, um belo dia, nos surpreendamos parados em meio a um congestionamento de quilômetros, como enfrentam hoje nossos irmãos de São Paulo.



Autoria : João Francisco Salomão é o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Acre (FIEAC).

Fonte: Leandro Vieira - Viveiros