Olimpíadas do Clima : combustível versus alimento

Editoria: Vininha F. Carvalho 14/08/2008

A cada quatro anos, milhares de atletas de centenas de países se reúnem para disputar um conjunto de modalidades esportivas. Os princípios dos jogos Olímpicos, de paz, amizade e bom relacionamento entre os povos, fazem despertar o debate sobre questões prementes que interessam a todas as nações.

A questão das mudanças climáticas, e suas conseqüências na qualidade de vida da população de todo o planeta, merece atenção e união de governos, empresas e cidadãos.

Fatores como a competição entre combustíveis e alimentos devem ser tratados como “esporte” coletivo. A questão não terá sucesso se for tratada como competição individual, ou esforço pessoal de um único competidor, cuja vitória isolada não colabora para o equacionamento do problema: combustível versus alimento.

Este assunto será melhor encaminhado se pretendermos abordá-lo como esforço coletivo, exatamente como em uma “corrida de revezamento”. A cana-de-açúcar passa o “bastão” no revezamento da plantação; a terra produz soja; passa o “bastão” e alimenta o gado. Enfim, permite-se um ciclo de cultura agrícola que, aproveitando as vocações agroecológicas e econômicas, gera emprego e renda, abastece com alimento e combustíveis o mercado interno e comercializa no exterior os excedentes.

O Brasil poderia, facilmente, liderar este quadro de medalhas, uma vez que, como uma das poucas potências ambientais, é capaz de responder ao aumento geral de produção com ótimos índices. O País possui, em abundância e satisfatória disposição geográfica, água, solo fértil, sol e capacidade agrícola empreendedora.

Na modalidade “pentatlo”, o agronegócio brasileiro também está em condições de participar, com sua cultura de grãos, produção de álcool, de biodiesel e de proteínas. Nesse aspecto, aliás, nosso país um sério candidato à medalha de ouro ambiental.

No mundo globalizado, a disseminação desse pensamento olímpico romperia barreiras, como em uma verdadeira corrida de obstáculos, ultrapassando subsídios ineficientes, entraves tarifários e fitossanitários. Assim, atingiria o pódio do acesso à comida bilhões de cidadãos, fomentaria o desenvolvimento social e econômico de nações.

Percorrer o caminho do ouro olímpico nada mais é do que permitir o entrelaçamento formado pelos cinco anéis, representando os continentes e suas cores. Este entendimento passará obrigatoriamente pela consciência e pelo engajamento ambiental necessários para a reversão dos fenômenos das mudanças climáticas.



Fonte: Antonio Carlos Porto Araujo é ambientalista, consultor da Trevisan Consultoria, professor da Trevisan Escola de Negócios e diretor da Trevisan Editora Universitária