Santos entrará para a história do remo com travessia inédita

Editoria: Vininha F. Carvalho 24/10/2007

O santista José Toledo Piza vai atravessar o oceano de Leste à Oeste, um desafio desafio esportivo e humano que pela primeira vez na história do remo, terminará em Santos. São cerca de 120 dias e 120 noites remando em solitário na imensidão do oceano até completar o percurso que começa em dezembro em Montpiller, França e termina em fevereiro na cidade de Santos.

O roteiro, minuciosamente trabalhado há dois anos pelo brasileiro José Toledo Piza tem exatos 7.000 quilômetros, ou 4.000 milhas, para usar a linguagem dos esportes náuticos, e é a primeira vez que um atleta ultrapassa os limites para chegar a uma cidade do litoral paulista. "Escolhi Santos como porto de chegada porque é a cidade que eu amo e quero ver o seu nome nos anais da história", conta o atleta.

Aos 49 anos José Toledo é movido à adrenalina. Há cerca de 20 anos morando na pequena Montpiller, França, dedicou-se exclusivamente a prática de esportes náuticos e fez disso o seu negócio. Durante esse período, alimentou o sonho de voltar ao Brasil remando e há dois anos tem trabalhado intensamente no projeto. O primeiro passo foi nunca descuidar da forma física.

"No meio do oceano não tem como você parar e dar aquela esticadinha, é uma constante superação de limites, então o preparo físico é responsável por quase 60% do sucesso do projeto", conta Toledo.

Para garantir que não falte força nos braços, José Toledo Piza conta com a ajuda do preparador físico Regis Beraud, referência francesa em preparo cardio-pulmonar, muscular e postural para atletas, sempre com a supervisão do médico Dr. Dominique Saint Georges.

"É uma viagem longa e difícil e com possibilidade de problemas articulares e tendinosos já que passo todo o tempo sentado e remando, por isso preciso aprender, inclusive, como me recuperar caso tenha algum desconforto como esse", conta.

Para ter uma idéia do tamanho da aventura que espera por esse atleta, experimente ficar 120 dias e 120 noites sentado num espaço de 7,5 metros por 1,6 metros de largura. Esse é tamanho da embarcação que servirá de moradia e transporte durante os três meses de travessia.

Construído em madeira epóxy, exclusivamente para esse tipo de aventura, o barco é rústico, mas muito sólido e estável. Desenhado pelo projetista Marc Ginisty, referência mundial em arquitetura marítima internacional em remo oceânico, o barco tem compartimento para levar todo o material de apoio como alimentação, equipamento de segurança, computador, telefone Iridium, VHF, kit de primeiros socorros, e roupas de tempo, caso ele tenha que enfrentar alguma tempestade, entre outros equipamentos.

Além de projetista do barco, Marc Ginisty é ainda, o mentor do projeto técnico da Travessia do Atlântico de José Toledo Piza. "Um barco à remo não é tão rápido quanto um veleiro e exige muito mais do atleta, por isso, um bom percurso é fundamental para evitar os maus tempos e ainda aproveitar melhor a correnteza", diz Toledo.

"A 20 e 30 graus do paralelo norte, Toledo será beneficiado pelos ventos dominantes", conta Ginisty. Isso significa que ele navegará numa velocidade que irá variar entre 50 a 130 km/h, aproveitando as correntes marinhas e os ventos alísios.

Homologado pelo The Ocean Rowing Society, organização internacional responsável pela promoção e registro de recordes de remo e canoagem, a travessia França - Santos vai tentar ainda outro feito, bater o recorde de travessia de Dakar à Natal (3.000 quilômetros), de 36 dias e 6 horas, conquistada em 2007 pelo francês Charles Hedrich. "Mas não farei escala, vou tocar direto para o Brasil, já que meu destino final é em Santos", explica.

Segundo estatísticas do The Ocean Rowing Society, das 36 embarcações solitárias que tentaram a travessia Leste-Oeste, apenas 23 terminaram o trajeto. José Toledo é o primeiro remador a seguir mais 4.000 quilômetros até o litoral do estado de São Paulo.

Frio, chuva, ventos fortes e mares bravios são apenas alguns do elementos que José Toledo Piza pode enfrentar nesses três meses de travessia. Soma-se a isso, conforto precário, possibilidade de problemas físicos e posturais, isolamento, estresse, sono e depressão, uma aventura que somente a grande paixão pelo esporte poderia explicar.

Fonte: Patricia Casagrande