O Carnaval e o turista estrangeiro

Editoria: Vininha F. Carvalho 25/01/2008

Falta apenas uma semana para o início do carnaval, época em que muitos turistas nacionais e estrangeiros se concentram nas capitais onde a folia pega fogo. Dados da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH) apontam que a ocupação no Rio de Janeiro, São Paulo e Salvador atinge a marca de 95%.

Para se ter uma idéia, só na capital baiana, houve 402.376 vôos domésticos, entre embarque e desembarque. Já o fluxo internacional totalizou 43.768 viajantes. Somados aos 600 mil oriundos de outras regiões da Bahia, aproximadamente 1 milhão de turistas participaram da festa. Se o caos aéreo não atrapalhar, a expectativa é que esse número triplique.

Sven Dinklage, consultor multicultural, lembra que além de todas estas cidades consideradas pólos carnavalescos, o turista normalmente aproveita para visitar e fazer compras em outros lugares como Outro Preto e Foz do Iguaçu, por exemplo.

“É nesse momento que o cuidado deve ser redobrado porque a forma com que esses visitantes serão tratados vai determinar a sua volta, ou não. Se todos os empresários investissem mais em treinamento e capacitação dos funcionários receptores de turistas, teriam um lucro maior”, afirma.

Quando há uma gafe intercultural, nem o melhor domínio de idiomas será capaz de reparar a situação. “Se caso não prestarmos atenção a uma série de detalhes, os conflitos gerados podem resultar em custo, perda de negócios ou em conseqüências ainda mais graves.

Em decorrência disso, o indivíduo e a organização que dominarem a diversidade terão um diferencial competitivo no mercado e poderíamos ultrapassar a marca dos R$4 bilhões arrecadados no período do carnaval, somando-se o faturamento de São Paulo, Rio e Salvador e ultrapassaria os 300 mil novos postos de trabalho, conforme aponta os números das fontes oficiais de cada capital”.

O maior grupo de turistas estrangeiros são os americanos, seguidos por portugueses, alemães, franceses e italianos. “Mas também há quem proceda de outros países, como os asiáticos, onde não há carnaval. Esse povo é atraído também pelas lindas mulheres brasileiras e, claro, pelo desfile das escolas de samba que são encantadores. Vale destacar que, não importa a sua origem, muitos são jovens e adoram participar ativamente das festividades. Enquanto, no passado, os turistas assistiam ao espetáculo de longe, tirando fotos de uma distância segura”, lembra Dinklage.

As escolas de samba notam este comportamento já na pré-temporada, que começou nos principais centros do Brasil. Os estrangeiros se soltam e fazem questão de escolher as fantasias para o desfile com antecedência e muito carinho.

“Algumas estações já oferecem atendimento em outros idiomas para orientar os turistas estrangeiros a assistir e participar dos ensaios. Os visitantes querem saber de todos os detalhes para entrar no espírito e no clima dos sambódromos locais”, conclui Dinklage.

Mas há alguns pontos importantes que devem ser recordados no momento de receber os turistas estrangeiros nesta época do ano. Dentre elas, o consultor destaca as seguintes observações:

Falar inglês ou outros idiomas:

Uma das principais queixas dos turistas estrangeiros no Brasil é a dificuldade de comunicação. Italianos, Alemães e Chineses não vão esperar que aqui se fale o idioma deles (seria melhor ainda!), porém esperam poder ‘sobreviver’ no Brasil, pelo menos, com o Inglês do colégio. Naturalmente, falar o idioma do hóspede ou, pelo menos, um bom inglês, será muito útil na hora de atender o hóspede estrangeiro. Há de evitar o constrangimento pelo qual passou um cliente do consultor, um hotel cinco estrelas, quando o hóspede pediu um “late check-out” e o pessoal atendeu prontamente fornecendo um “leite com chocolate”... Além disso, materiais impressos (programações, folhetos turísticos, enredos e explicações sobre as escolas etc.) devem estar disponíveis em outras línguas.


Segurança para turistas estrangeiros :

Não suponha que o turista estrangeiro saiba se movimentar com segurança em um país como o Brasil. Ele já sabe que o país tem um problema de criminalidade e deve ter visto alguma coisa nos jornais, porém ele não compartilha o instinto por esta questão que parece ser nato para o brasileiro.

Como na sua casa, onde se aventurar em uma cidade estranha ou em uma estrada desconhecida não representa nenhum problema, o estrangeiro pode querer retornar para o hotel a pé, aceitar convites para festas particulares de estranhos ou experimentar caminhos alternativos para um determinado local. Portanto, se você puder, dê as instruções para este turista não enfrentar nenhuma surpresa no nosso país!


Seja um consultor cultural :

Como para nós muita coisa é estranha nos outros países, assim também é para os turistas no Brasil. Portanto, os estrangeiros querem realmente saber, explique tudo que puder! Explique os símbolos do carnaval, os costumes típicos, a história do país, da cidade etc.

Vale reforçar, por exemplo, por que as roupas das mulheres durante o carnaval são tão pouco conservadoras – para sociedades mais liberais, isto pode levar a falsas interpretações sobre a moral dos brasileiros e das brasileiras! Explique também, por exemplo, a cultura do otimismo do brasileiro, o ‘jeitinho’ ou as atividades de lazer favoritas.

Lembre-se que há carnaval em outros países também! O carnaval brasileiro chama muita atenção no mundo lá fora, porém não é o único existente. Na verdade, é mais uma herança que o Brasil tem do ‘velho mundo’, pois o costume do carnaval foi divulgado no mundo pelo catolicismo. Seja nos EUA (exemplo: Nova Orleans), Itália (Veneza), França (Nice) ou Alemanha (Cologne), as pessoas festejam o seu carnaval com muito brilho e muita folia. E o espírito é sempre o mesmo: escapar, por alguns dias, das realidades do cotidiano.

Não erre o país de origem do seu hóspede! Quem já não passou pela seguinte situação quando viajando fora do nosso país: “Ah, que legal, você é do Brasil? Eu adoraria conhecer Buenos Aires!”. Pois é! Como este tipo de experiência é desagradável para os brasileiros, assim também é para um austríaco que é chamado de alemão, um irlandês que é chamado de inglês ou um nova-zelandês que é tratado como australiano. Cuidado! Informe-se bem antes e, na dúvida, pergunte!


Mantenha distância e evite contato físico :

É difícil achar culturas que utilizem tanto o contato físico como o brasileiro. Dependendo da cultura, é indicada apenas uma leve inclinação, um sinal com a cabeça e, às vezes, não se pode cumprimentar as mulheres. Observe bem o que o seu hóspede fizer e faça o mesmo!


Sorrie:

Uma das coisas mais universais no mundo é o sorriso – diz muita coisa, mesmo quando não falamos o idioma do interlocutor. Mas cuidado: o sorriso não deve ser exagerado, pois muitas culturas são mais reservadas. E lembre-se que os japoneses, por exemplo, não necessariamente estão satisfeitos quando estão sorrindo!

Procure saber das preferências pessoais do seu hóspede! Temos que conhecer bem os outros povos para poder antecipar as suas preferências pessoais. Os japoneses e chineses, por exemplo, de maneira alguma podem ser hospedados em quartos com o número quatro, pois este número é o número do azar para estes povos; a pronúncia desta palavra no idioma local é muito parecida com a da palavra ‘morte’.

O número da sorte para os chineses, por exemplo, é o oito, que tem a mesma pronúncia que a palavra ‘sorte’ (é por isto que a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos em Pequim deste ano está programada para o dia 08 de Agosto, com início as 20:08). Já o povo Árabe, o melhor, o Muçulmano, apreciará saber em qual direção fica Meca, para poder rezar cinco vezes ao dia, como determina a lei do Islã. E caso você receber um Judeu ortodoxo no final de semana, prepare-se para preparar uma cozinha purificada para cozinhar ‘kosher’ e, durante o Shabat, saiba que o seu hóspede não poderá, entre outras coisas, acionar nenhum botão que implique em consumo de energia elétrica (melhor hospedá-lo no térreo). Fácil, não é?



Sobre Sven Dinklage:

Dinklage é consultor internacional especializado na área intercultural. Os seus clientes são do setor de hotelaria/turismo e empresas multinacionais que querem capacitar seus profissionais para lidarem melhor com as diferenças culturais. Dinklage possui ampla experiência em planejamento estratégico, inteligência competitiva, análise de novos negócios, gerenciamento de projetos e análise de processos administrativos. De nacionalidade alemã, a sua vivência internacional é extensa, já viveu nos EUA, na Inglaterra, na Espanha e na França. É detentor de uma alta sensibilidade intercultural e domínio dos idiomas alemão, inglês, espanhol, francês e português. É formando na ESCP-EAP – École Européenne des Affaires







Fonte: Carolina Lara