Pesquisadores da Poli /USP apresentam o leite ambientalmente responsável

Editoria: Vininha F. Carvalho 25/06/2007

Preocupados em inserir o pequeno e médio produtor de leite (rebanhos com até 50 vacas) nas questões macroambientais, o professor do Departamento de Engenharia Mecânica da Escola Politécnica, Flávio Fiorelli, e o engenheiro Giancarlo Obando Diaz, seu orientado do curso de Mestrado, escolheram como objeto de pesquisa, que levou 2 anos para ser concluída, identificar um sistema de resfriamento de leite para esse perfil de produtor e que atendesse às orientações do Protocolo de Kiyoto.

Segundo os autores, as fazendas leiteiras geram uma grande quantidade de detritos orgânicos (principalmente o esterco produzido pelos animais), e demandam energia para o manejo, tratamento e conservação do leite, principalmente em fazendas mais afastadas dos centros de coleta.

Para manter-se eficiente, a fim de atender aos prazos de validade e manutenção de sua produção, o resfriamento do leite na fazenda e o seu transporte a granel (caminhão-tanque) é incentivado pelo Programa Nacional de Melhoria da Qualidade do Leite (PNQL), que objetiva o aumento da competitividade e a modernização do setor leiteiro brasileiro.

"Para o produtor, a instalação de um sistema de refrigeração de leite é um diferencial importante para assegurar sua permanência no mercado, porém o setor convive com diferenças culturais, dificuldades de financiamento e indisponibilidade de energia", observa o professor.

A alternativa apontada no trabalho é a de implantação, no âmbito do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) do Protocolo de Kiyoto, de biodigestores para o gerenciamento adequado dos detritos animais, reduzindo as emissões de gases causadores do efeito estufa (principalmente o metano resultante da decomposição do esterco).

Essa implantação possibilita a geração de recursos econômicos pela comercialização dos créditos de carbono, a geração de um insumo energético renovável e de baixo custo (o biogás resultante da biodigestão), e um potencial substituto de fertilizantes químicos (o efluente que sobra da biodigestão). "Esses produtos permitem melhorar a viabilidade econômica da implantação dos sistemas de resfriamento necessários", comenta Fiorelli.

O projeto analisa a situação de dois possíveis usuários:

1) o produtor que ainda não conta com um sistema para resfriamento de leite in loco, e que poderia utilizar o biogás ou energia elétrica como insumo energético;

2) o produtor que já conta com o sistema de resfriamento acionado por energia elétrica da rede e estuda a viabilidade de substituí-la por eletricidade gerada a partir do biogás.

De acordo com os pesquisadores, as tendências para o período de 2008-2012, quando as exigências do Protocolo de Kiyoto deverão ser cumpridas, indicam que o preço do crédito de carbono deverá duplicar ou triplicar em relação ao seu valor atual.

A análise de cenários indicou que a utilização do biogás em um sistema de geração de energia elétrica acionado por motor de combustão do tipo Otto tem condições de atender a demanda do sistema frigorífico.

"Essa é a configuração adequada para o produtor que não tenha ainda um sistema de resfriamento, ou mesmo para as regiões que não dispõem de energia elétrica", esclarece o professor. O produtor que já dispõe do sistema de resfriamento, por sua vez, terá vantagens na substituição da compra de energia elétrica por geração in loco se achar viável aguardar pouco mais de 2 anos para obter o retorno do investimento.




Fonte: POLI / USP