Projeto Vem promove o turismo responsável na Ilha de Marajó

Editoria: Vininha F. Carvalho 16/08/2007

Conhecer uma ilha mágica onde tribos indígenas viveram e só deixaram alguns artesanatos como prova, onde quase todo dia tem um arco-íris e onde há mais búfalos do que gente, é muito interessante. Por sua vez, ficar um tempo em uma comunidade, vivendo com os pescadores e conhecendo um pouco mais da cultura marajoara é um diferencial oferecido pela comunidade da Vila do Pesqueiro, na Ilha de Marajó (PA), dentro de um projeto chamado VEM – Viagem Encontrando Marajó.

Distante 3h30 de barco de Belém do Pará, a Ilha de Marajó é maior do que a Inglaterra e é banhada pelo mar ao Norte e por uma série de rios ao Sul. Localizada perto de Soure, a Vila do Pesqueiro reúne as riquezas da fauna e flora amazônica, com praias de areia branca.

Com esse potencial turístico, os quase 400 moradores se uniram e decidiram receber grupos de até 10 pessoas, tratá-los como reis e em troca criar uma fonte de renda com o turismo sustentável. Sem hotéis na vila, o turista fica hospedado nas casas de moradores.

As residências participantes são escolhidas a dedo, pegando as mais limpas, organizadas, dispostas a receber estranhos. No café da manhã servem tapioca fresca com requeijão de leite de búfala, e no jantar pratos saborosos da culinária local como peixe pratiqueira na brasa, bife de búfalo e outras delícias com camarão.

Depois de conhecer a casa onde ficará hospedado e após a primeira refeição, a próxima coisa a fazer é aproveitar a praia. Há barracas com boa infra-estrutura, bebidas geladas, comida preparada na hora e banheiro. Além disso, “o Xó” que é o administrador da praia pode amarrar sua rede em algum dos quiosques de frente para a maré.

Apesar da areia branca, dos coqueiros e das ondas, tecnicamente, a água da praia não pode ser chamada de mar já que às vezes é quase doce como um rio. A maré é uma mistura da água do mar com as correntes dos rios. Durante o inverno, o volume do rio vence a quantidade de água do mar, deixando a praia da vila pouco salina, quase doce. Já no verão a força altera, e a praia fica de água salgada.

O resultado dessa luta é uma abundante vida aquática, com diferentes tipos de peixe, muito camarão e uma proliferação de pescadores. Por tanto, ir pescar é uma ótima opção de passeio e de integração com a comunidade. O Seu Catita, Álvaro dos Santos Leal, ajudado por seu filho Rupiado, ou Igor Leal, oferecem a possibilidade da vivência da pesca tradicional local.

Pela manhã, o pescador, vai até um dos rios, joga a rede atravessada de uma borda a outra, e deixa lá. Volta mais tarde e vê o que o rio trouxe de bom. Caso o turista fique entediado com esse processo de pesca, pode pedir para ir dar um mergulho no igarapé, só para se entreter.

Além da pesca há todo tipo de atividade, como aproveitar a praia, fazer caminhadas, observar o vôo das aves, passeios de barco, alugar bicicletas. Mas, quando o turista resolver buscar passeios incomuns , uma boa opção é encontrar o seu Bidó, Raimundo Borges, e Seu Zé, José Matias de Azevedo, e ir caçar turu.

Conhecido como o Viagra marajoara, turu é uma minhoca, pura proteína, e tida como um dos pratos mais requintados da região, assim como ostras em outros destinos. Aliás, a iguaria é servida como os mariscos, fresca com limão e sal.

A minhoca vive em troncos e madeiras podre. A dica para saber quando tem turu é se a madeira está ficando com uma cor avermelhada.

Hoje, a tradição de comer turu está sendo perdida. Só as famílias mais típicas ainda têm esse costume. As mais modernizadas já estão se afastando das tradições pesqueiras.Seu Bidó explica que gosta de turu, mas não come cru. Prefere cozido, em um caldo, que fica meio roxo, mas de aroma delicioso.

Aventura:

Para chegar na Vila do Pesqueiro, o viajante vai passar pela fazenda No Limite, onde foi gravada uma edição desse reality show. Inspirado no sucesso do programa e sabendo que os turistas gostam de emoção, José Alberto Almeida fundou a Marajó Ventura para oferecer esportes de aventura, como caminhadas diurnas no mangue, idas aos igarapés e trekking noturno, andar de búfalo, caiaques, charrete e barco.

Talvez, andar de búfalo não possa ser caracterizado como esporte de risco, mas é o passeio mais procurado e um dos mais emocionantes. Custa entre R$ 5 e R$ 10 com direito a foto em cima do búfalo.

Aliás disso, esse animal é um dos símbolos da Ilha de Marajó por ser muito numeroso. Usados como fonte de leite e carne, esses bovídeos são responsáveis por puxar a charrete usada para a retirada do lix.

Outro exemplar abundante da fauna é o pássaro guará, todo vermelho. Não é preciso ir longe para achá-los, sentado na porta da principal vendinha, no meio da Vila do Pesqueiro, já dá para observar uma revoada.

Mais uma opção para ver Guarás de forma mais integrada com a natureza é ir no horário próximo do por do sol para a Fazenda Araruna, que fica no caminho da Praia Barra Velha. Cortada por um igarapé, a travessia pode ser feita no barco do Sr. Francisco, morador da Barra Velha. Ele pode esquecer de avisar ao turista que aquela praia é uma das mais infestadas por arraia. Por isso, cuidado.

De preferência andar nas áreas secas e quando pisar em alagadiços usar o truque de arrastar os pés. As arraias não toleram ser pisadas, retribuindo o gesto com o ferrão. No entanto, elas aceitam melhor serem chutadas.

Subindo o rio Paracaury, que fica entre Soure e Salvaterra, há o passeio ao Furo do Miguelão, um atalho feito no meio da mata para que os moradores passarem de barco a remo ou pequenas rabetas. Mas, na prosa dos moradores, Miguelão era um valentão e fez o furo ao montar em uma anaconda gigante.

O caminho parece ter relação com o movimento da cobra, já que há curvas bem fechadas. Independente de como foi criado, o Furo do Miguelão é uma ótima oportunidade para tentar avistar animais da mata, como Pavão do Mangal, Guaribas (um tipo de macaco, também conhecido como bugio) e os Guarás.

Mudança de praia:

Todos esses passeios podem ser feitos em uma tarde, permitindo que metade do dia seja aplicado profundamente em aproveitar a praia do Pesqueiro. No entanto, para variar a vista da praia, o turista pode ir de barco, a remo ou motor, até a Vila do Céu, que tem uma praia longa, com muita vegetação e também barracas com cerveja gelada.

A forma mais fácil de acesso é por barcos, até porque o acesso por terra é restrito e nem ônibus público vai até lá. Oficialmente, a PA 154 chegaria até essa cidade, mas uma guarita foi colocada em uma das fazendas, dificultando consideravelmente a passagem de turistas e moradores por terra.

O projeto:

A Vila do Pesqueiro, comunidade tradicional marajoara, não se beneficiava com o fluxo turístico ocorrido na praia. Então, o cartão postal tradicional da ilha decidiu deixar de ser apenas um passeio de uma tarde e está se capacitando para atrair turistas, principalmente pessoas descoladas que valorizem a cultura local e o desenvolvimento do turismo consciente e integrado.

O projeto criado pela comunidade, liderado pela Associação das Mulheres do Pesqueiro, com apoio de Maria Tereza Junqueira, quer profissionalizar o serviço turístico e gerar renda. Além dos preços dos serviços, como hospedagem, passeios e refeições, uma taxa de R$ 70 é cobrada do visitante. A idéia é com o tempo investir os recursos dessa taxa construir uma pousada comunitária.

Dos habitantes, menos de 10% é assalariado. A maioria vive da pesca, que já não está rendendo muito. Por isso, o investimento no turismo. De olho na profissionalização e melhoria dos serviços prestados, as mulheres da associação fizeram acordos de capacitação junto ao Sebrae.

Serviço:

Estado: Pará
DDD: 91
Código de Endereçamento Postal (CEP): 66053-000
Área: aproximadamente 50.000 km²
População: cerca de 250.000 habitantes
Distância de Belém: 87 km

Vila do Pesqueiro:

Ao leste da Ilha de Marajó, próxima ao município de Soure. Fica de frente para a baia de Marajó, no encontro da água do mar com o fluxo dos rios. É voltada párea o continente, quase chegando ao Oceano Atlântico.


Fonte: Cindy Correa - Projeto VEM

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