ABIH Nacional está preocupada com o crescimento de cruzeiros marítimos

Editoria: Vininha F. Carvalho 11/04/2007

Que cruzeiro marítimo está na moda, nenhum profissional do turismo tem dúvida. Além da farta publicidade, os meios de comunicação têm sido pródigos em divulgar os encantos de uma viagem que, é bom ressaltar, até muito recentemente não passaria de sonho remoto para a maioria dos viajantes brasileiros. Ainda mais embarcar nesses enormes transatlânticos, só vistos antes no cinema, e desfrutar de tratamento de rei e até viajar com um, como é possível no cruzeiro temático que leva a bordo o rei Roberto Carlos , benesses agora apregoadas nos jornais, revistas, rádio, tevê e até em outdoors.

Além do mais, sempre aparece alguém para contar as maravilhas da experiência. As estatísticas comprovam o crescimento retumbante da presença desses transatlânticos nos mares brasileiros.

Todavia, a hotelaria nacional julga essa uma concorrência, que ousaria classificar de desleal, pelas excepcionais condições em que se dá, enquanto os empresários do setor amargam as conseqüências da sazonalidade e baixa temporada. Para o cidadão comum, a novidade é uma beleza.

Mas, para o empresário da hotelaria, o que passou a ser um sonho de consumo turístico em todas as classes sociais tem virado inesgotável fonte de tormento e questionamentos. Ameaça seus negócios, afasta os usuários da rede de hotéis e, de quebra, estabelece relação desigual entre os empresários do setor de cruzeiros e a hotelaria, embora ambas as atividades sejam fundamentais para a economia do setor turismo.

Essa queda-de-braço parece se acentuar agora, com a divulgação dos resultados do segmento cruzeiro marítimo. De acordo com o presidente da novíssima Abremar, Eduardo Nascimento, um transatlântico de conhecimento e competência profissional, nove navios transitaram pelas águas brasileiras na temporada passada, que transportaram 229 mil passageiros, geraram mais de 14 mil empregos e recolheu US$ 20 milhões em impostos, enquanto passageiros e tripulantes consumiram aqui US$ 68 milhões. E, na mais recente estação, expressivo aumento de 39%, representado por 12 navios, 330 mil passageiros, emprego para 19 mil pessoas e US$ 28 milhões recolhidos em impostos, ou seja, mais 30%. São números fantásticos!

Não por outra razão, chamei à minha responsabilidade de presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (Abih) nacional requisitar planilhas e pedir para conhecer melhor os cálculos desse megarresultado, que, obviamente, enche de entusiasmo o setor de cruzeiros. De nossa parte, não alimentamos a intenção de polemizar, nem nos conformarmos com a alegação de que o preço das diárias está elevado. A hotelaria nacional pretende conhecer melhor esse promissor mercado em um país, como o Brasil, que só recentemente conferiu importância econômica ao segmento turismo.

Razoável, portanto, que uma entidade com 70 anos de existência, como é a Abih, opte por querer atuar e evoluir dentro de balizas estruturadas e bem construídas. Nosso interesse é analisar números e resultados, mensurar causas e efeitos a curto e longo prazos dessa concorrência, que julgamos acontecer em cenário desvantajoso para o segmento de hotéis.

Citemos um exemplo, apenas: a festa de reveillon e queima de fogos no Rio de Janeiro, paga integralmente pelos hoteleiros instalados na orla e confortavelmente usufruídos pelos passageiros dos transatlânticos fundeados em Copacabana. Belo camarote, com certeza. E a baixo custo, pois é sabido que só alguns dos armadores, ou seus representantes, se dignaram pagar a módica quantia de R$ 50 por passageiro, coletando não mais do que R$ 75 mil, para juntar ao rateio dos hoteleiros.

Ora, na medida em que o segmento da hotelaria cresce no país, porque os empresários acreditam no potencial do turismo brasileiro, nada justifica que deixemos de apurar o que significa a presença desses navios em nossos mares, até mesmo para responder aos inúmeros questionamentos dos nossos associados, bem como embasar nossas preocupações com a ameaça de desequilíbrio econômico. E nos prepararmos para o futuro.

É ônus para a hotelaria a oferta dos muitos atrativos dos navios de cruzeiro, incluindo até cassinos e duty free, que funcionam com o beneplácito da legislação vigente. São fatos já denunciados pelos representantes dos hotéis de lazer e entretenimento.

A Abih quer ultrapassar a linha tênue da polêmica e enveredar para um debate apropriado da questão, que abraça a sobrevivência econômica dos hotéis.

Afinal, está em jogo um setor que gera mais de 1 milhão de empregos, amarga a redução das taxas de ocupação e aumento substancial da carga tributaria, quadro agravado com o aumento crescente da concorrência dos navios de cruzeiro. É tão evidente os fatos apontados que, manusear informações, planilhas, conhecer a base de cálculos dos bons resultados auferidos pelos integrantes da Abremar, não trará grandes mudanças às nossas estatísticas. Jamais, todavia, colidir com um Titanic moderno e suntuoso, como é o comandado pelos megaempresarios do setor marítimo.

Autoria - Eraldo Alves da Cunha - Presidente Nacional da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (Abih)


Publicado no Jornal CORREIO BRAZILIENSE - Brasília, sábado, 07 de abril de 2007

Fonte: ABIH