Apagão nos Jogos Pan-americanos ?

Editoria: Vininha F. Carvalho 14/06/2007

Em dezembro, o caos aéreo deixou milhares de passageiros sem poder viajar ou esperando horas nos saguões dos aeroportos. O fato se repetiu no Carnaval, quando um expressivo número de pessoas deixou de viajar temendo um novo apagão.

A julgar pelo alto investimento destinado aos Jogos Pan-Americanos, que serão realizados em julho, no Rio de Janeiro, como cidadão brasileiro, eu pergunto: qual seria o plano B que o governo está preparando para o caso de um novo apagão aéreo?

O governo, como a maioria dos brasileiros, tem péssimo hábito de deixar tudo para a última hora. Instalou-se a CPI do Apagão, foram criadas comissões para acompanhar a crise do setor aéreo e os procedimentos para a realização dos Jogos Pan-Americanos, ok. Vemos serem apregoadas em público, diversas medidas, como se o problema estivesse resolvido. No entanto, o impasse continua, assim como as dificuldades nos aeroportos e no controle aéreo.

Quais são, de fato, as alternativas práticas para evitarmos um novo transtorno aos passageiros, ainda mais com a proximidade dos tão esperados Jogos, que funcionarão como cartão de visitas à nossa pretensão de sediar a Copa do Mundo, em 2014?

Nossa situação de caos urbano, com altos índices de criminalidade e violência, por si só já seria preocupante, mas nossos representantes nos ministérios do Turismo e dos Esportes já pensaram na possibilidade de passarmos pelo mesmo tormento nos transportes aéreos, desta vez diante de todos países que virão ao Brasil por conta do Pan?

Como vamos convencer os comitês internacionais de que estamos realmente preparados para sediar qualquer evento de grande porte, se não temos competência para transportar os passageiros de aeroporto em aeroporto?

O próprio Nuzman, presidente do COB – Comitê Olímpico Brasileiro já manifestou seu temor com relação ao desembarque das muitas delegações nos aeroportos de São Paulo e Rio de Janeiro. Do jeito que anda o transporte aéreo e dependendo da origem, chega-se mais rápido ao Rio de carro do que de avião.

Seriam cômicas senão fossem tão trágicas as conseqüências, se apenas surgirem rumores de uma nova operação-padrão e de uma nova seqüência de atrasos nos vôos durante o Pan, isso fará com que muitos prefiram o carro ou o ônibus para os deslocamentos. O fretamento pode ser a melhor alternativa para um apagão nos Jogos Pan-Americanos. Só que o sistema de transporte rodoviário ainda sequer foi consultado sobre qualquer possibilidade de ser o plano B do governo federal.

Com relação aos Jogos Pan-Americanos, temos uma incógnita pairando no ar. Precisamos de uma alternativa viável ao apagão. Deveríamos formar uma grande rede entre governo, companhias aéreas e empresas de ônibus de fretamento, para apresentarmos um plano de emergência se houver caos nos aeroportos. Se estivermos preparados, não sofreremos pressão de nenhuma categoria mostrando seu poder de barganha durante os Jogos Pan-Americanos.

Assim todos ganham. Ganha o esporte, ganha o turismo, ganham as autoridades constituídas, ganham os passageiros. Basta planejar com antecedência. Temos certeza, que as empresas de ônibus de fretamento não se furtarão ao compromisso de proporcionar agilidade e segurança como solução ao problema das viagens interestaduais, city tour, traslado e passeios, desde que se definam as regras precocemente.

No Brasil, o caos aéreo é apenas um dos sintomas de uma crise maior. A desordem que se instalou no controle de tráfego aéreo é o indício do apagão do Estado, responsável pela organização e pela prestação dos serviços essenciais à nossa sociedade. Ou quem sabe, o governo acredite que tanto tempo há espera de um espetáculo, os turistas não se importarão de ficar horas a mais nos aeroportos.


Autoria: Maurício Marques Garcias, 40, engenheiro mecânico, é presidente da Federação das Empresas de Transporte de Passageiros por Fretamento do Estado de São Paulo.

Fonte: FRESP