O turismo comunitário como instrumento de desenvolvimento sustentável

Editoria: Vininha F. Carvalho 07/05/2007

O turismo é um dos seguimentos da economia que atende velozmente as necessidades de desenvolvimento de uma região. O processo do desenvolvimento humano e inclusão social sustenta-se basicamente na habilidade do homem ao exercer papel de ator social dotado de ações que buscam os direitos humanos e o desenvolvimento socioeconômico e cultural, apto a defender propostas para seu próprio desenvolvimento e o bem estar de sua comunidade.

Neste cenário, o turismo comunitário apresenta-se como um novo eixo da atividade turística, possibilitando ao homem o seu crescimento na sociedade com o exercício de seus direitos e deveres individuais e coletivos, oportunizando desenvolvimento econômico e social utilizando-se dos seus próprios recursos.

Desafia seus próprios limites no que diz respeito à preservação do meio ambiente e da cultura local além de oferecer bases sólidas para a consolidação do turismo responsável e uma política econômica sustentável pelas condições de sobrevivência.
Para que ocorra o desenvolvimento, é preciso priorizar a satisfação de algumas necessidades humanas no que diz respeito à saúde, educação, moradia, lazer, emprego e renda.

Esses fatores implicam diretamente no processo de desenvolvimento do individuo, uma vez que o mesmo necessita de auto-independência e habilidades para atuar em grupo, tornando-se protagonista de sua evolução e conseqüentemente de sua comunidade, já que a participação é considerada pelos estudiosos um processo de mobilização social e espaço de construção de cidadania.

A promoção do turismo comunitário abre espaço para as comunidades, que são levadas à transformação das mesmas em núcleos receptores do turismo, buscando no mesmo, ferramentas para o desenvolvimento local, além de se autobeneficiarem com a produção de produtos e prestação de serviços. Aderem ao associativismo através de cooperativas e organizações comunitárias.

A Comunidade e o “viver em comunidade”, sempre foram preocupações de filósofos, cientistas e teólogos de muitas épocas e tempos. Esta preocupação é uma preocupação acerca do próprio homem, pois se ele é um “animal social”, quer dizer que ele vive em agrupamentos com seus iguais. Portanto o viver humano, com suas implicações nas relações sociais levou a investigações de uma gama de pensadores em vários momentos da humanidade.

O desenvolvimento comunitário é o processo pelo qual a comunidade atingiu seu nível de amadurecimento com relação a si própria e a suas potências.

No Brasil o surgimento dos primeiros projetos de desenvolvimento comunitário data da década de 40, através de convênios para incrementar a produção de alimentos, a educação industrial e rural. Em 1948, foi fundada uma Associação de Crédito e Assistência Rural – ACAR, nas décadas de 50 e 60 foram criadas Campanhas de Educação Rural – CNER e o Serviço Social Rural.

A transformação política no país em 1964 e posteriormente com o surgimento da repressão aos movimentos sociais, as iniciais propostas do desenvolvimento comunitário seguiram outro rumo, inserindo-se num contexto de “integração social” que visa a participação popular como recurso de colaboração com diretrizes traçadas pelo Estado em programas do plano nacional que passaram a privilegiar os aspectos quantitativos de desenvolvimento.

Já na década de 70, o Estado substituiu os programas de desenvolvimento comunitário pelo Programa Nacional de Centros Sociais Urbanos, consolidando sua estratégia de transformar as ações comunitárias em atividades comunitárias de integração social como lazer, treinamento profissional, previdência e assistência jurídica.

Haja vista sua trajetória no Brasil, o desenvolvimento comunitário solidificou alguns preconceitos no que refere-se as idéias de comunidade, de desenvolvimento comunitário e do serviço social. Décadas passaram-se e o sentido desse desenvolvimento sofreu modificações marcadas pela globalização, ou seja, ocorreu à dimensão comunitária do desenvolvimento.

Segundo Dowbor (1998, p.44) a humanização do desenvolvimento passa pela reconstituição dos espaços comunitários.Essa dimensão de acordo com Castells (1999 apud CORIOLANO, p.28): ”[...]se revela em toda sua importância. Uma vez que a base de ações comunitárias seja o espaço dividido cotidianamente, havendo a necessidade de sua constituição em um novo referencial para seus membros, de modo que suas identidades sejam reconstruídas em torno do local.

E para que ocorra o tão esperado desenvolvimento, é preciso priorizar a satisfação de algumas necessidades humanas no que diz respeito à saúde, educação, moradia, lazer e emprego. Esses fatores implicam diretamente no processo de crescimento do indivíduo, uma vez que o mesmo necessita de auto-independência para atuar em grupo tornando-se protagonista de seu próprio desenvolvimento e o da comunidade. Pois a participação é considerada pelos estudiosos um processo de mobilização social e espacial de construção da cidadania.

Sabe-se que o turismo é indicado, como uma das grandes alternativas de crescimento em diversos países e quando utilizado para o benefício local significa adotar políticas que sejam resultantes de trabalho e ocupação autopromovendo a realização humana, ou seja, o crescimento das atividades econômicas, por decisão coletiva de trabalho que garanta o suprir das necessidades promovendo o bem-estar social.

Segundo dados do IPEA/PNUD, o Brasil apresenta um dos maiores índices de desigualdades sociais do mundo: os 20% mais ricos da população detêm 65% da renda total e os 50% mais pobres ficam com 12% (em 1960 essa relação era de 54% contra 18%). A renda média dos 10% mais ricos é quase 30 vezes maior que a renda média dos 40% mais pobres, contra 10 vezes na Argentina, 5 vezes na França e Alemanha, 4 vezes na Holanda, 25 vezes no Peru e 13 vezes na Costa Rica. A fração da renda apropriada pelos 20% mais ricos cresceu 11 pontos entre 1960 e 1990, enquanto a dos 50% mais pobres caiu 6 pontos e das classes intermediárias permaneceu quase sem alteração.

Os modelos comumente utilizados para avaliar o desenvolvimento de uma localidade baseiam-se a priore em indicadores econômicos, o PIB - Produto Interno Bruto, que indica o crescimento econômico, mas o desenvolvimento em si não é identificado, e nas comunidades esse indicador implica essencialmente na melhoria da qualidade de vida das pessoas. Com a promoção do turismo surgem espaços para as comunidades, que são levadas à transformação das mesmas em núcleos receptores de turismo.

A maioria delas aceita passivamente a proposta, enquanto outras abraçam a idéia de crescimento, buscando no turismo ferramentas para o desenvolvimento local, além de se autobeneficiarem com a produção e venda de produtos e prestação de serviços. As mesmas aderem ao associativismo através de cooperativas e organizações comunitárias.

Tratando-se da atividade turística e desenvolvimento, Coriolano (2003, p.130) afirma que: “O desenvolvimento só se dá quando todas as pessoas são beneficiadas, quando atingem a escala humana e o turismo tanto pode se vincular ao crescimento econômico concentrado, como ao desenvolvimento social, o chamado desenvolvimento local”.

O desenvolvimento comunitário através do turismo, para ser construído de forma sustentável, deve abranger dois aspectos: social e econômico. As ações de saúde e educação isoladas de uma tragédia de desenvolvimento da economia local, ou seja, aquela na qual o dinheiro da comunidade circula, formada pelos negócios locais, perdem força em transformar vida das famílias de baixa renda e vice-versa.

A simples melhoria de renda não gera necessariamente um impacto nas condições de vida das pessoas. Para entender melhor a economia local e o potencial para fortalecê-lo, é preciso ter uma visão holística e conhecer os caminhos que o dinheiro percorre a comunidade e também os negócios locais existentes podem contribuir para o desenvolvimento econômico comunitário potencializando a circulação de dinheiro energizando as atividades produtivas de trabalho, com isto, gerando renda.

Acredita-se que no trabalho em grupo é preciso contar com talentos, capacidades e habilidades diferenciados entre si. A qualidade de cooperação tem que ser identificada nos membros da comunidade, já que as pessoas que fazem parte deste tipo humano são pessoas que sabem ouvir bem, que prestam atenção e que procuram as possibilidades existentes para realizar o que está sendo proposto. Abrindo espaços para viabilizar que as pessoas se encontrem e as coisas se realizem.

O turismo comunitário apresenta-se sendo desenvolvido pela própria comunidade, onde seus membros passam a ser ao mesmo tempo articuladores e construtores da cadeia produtiva, onde a renda e o lucro permanecem na comunidade contribuindo para melhoria de qualidade de vida, levando todos a se sentirem capazes de cooperar e organizar as estratégias do desenvolvimento do turismo.

Além de requerer a participação de toda a comunidade, considera os direitos e deveres individuais e coletivos elaborando um processo de planejamento participativo.

Desenvolvendo assim a gestão participativa, ou seja, os atores sociais na sua maioria se envolvem com as atividades desenvolvidas no local de forma direta ou indireta tendo sempre em vista a melhoria da comunidade e de cada participante, levando em conta os desejos e as necessidades das pessoas, a cultura local e a valorização do patrimônio natural e cultural.

Alcântara (2003, p.28) afirma que a idéia de gestão participativa tem mostrado que, em várias partes do mundo, é uma forma mais democrática de planejar e executar, contribuindo de modo mais eficiente para a sustentabilidade da natureza e da atividade turística.

O turismo comunitário emergiu em áreas de reservas ecológicas e em outros pólos catalisadores da atividade, abrindo novas perspectivas de postos de emprego e geração de renda para as pequenas comunidades do interior da região e funcionando também como fator de conscientização e integração das populações às políticas e ações voltadas para o desenvolvimento sustentável.

Haja vista o processo organizacional da comunidade percebe-se que o turismo comunitário reúne condições para que seja trabalhado de forma que crie uma infra-estrutura local voltada ao desenvolvimento do turismo, tendo por base princípios da economia solidária.

O trabalho envolve a participação direta de todos.
Esse tipo de turismo objetiva construir um modelo mais justo e eqüitativo de turismo, que leve em conta a sustentabilidade ambiental colocando a população local no centro do planejamento, da implementação e do monitoramento das atividades turísticas permitindo a geração de emprego, trabalho e renda para a comunidade mudando o caráter global do turismo.

Objetiva também questionar o mito do turismo como único gerador de emprego e renda denunciando políticas centralizadoras na atração de investimentos que não levam em consideração a participação das comunidades. Destacando os impactos negativos da atividade turística convencional sobre os recursos naturais, ecossistemas e populações locais.

Os impactos sociais, culturais e ambientais dos projetos de turismo comunitário são desenvolvidos diversas localidades Brasil, porém com as comunidades da zona costeira cearense merece destaque em Prainha do Canto Verde no Ceara, experiência do Turismo Comunitário que vêm produzindo impactos positivos fortalecendo a luta pela posse da terra, pelo respeito à cultura e tradições locais.

Considera-se, portanto o Turismo Comunitário como aquele que é determinado e controlado pelas populações locais e que grande parte de seus benefícios permaneçam na região. Surgindo uma nova versão do turismo de forma participativa em virtude de se ter como público-alvo a comunidade local, que se caracteriza pelo conjunto de pessoas que habitam em um espaço físico delimitado no qual realizam grande parte das atividades cotidianas e que, além de possuírem uma cultura e identidades comuns, estão sujeitas à mesma estrutura social.

Percebe-se que a importância do desenvolvimento da comunidade local pode ser viável e constitui o objetivo de desenvolvimento sustentável, instrumento fundamental na determinação e seleção das prioridades para a evolução harmoniosa do turismo.

O turismo comunitário destaca-se pela mobilização da comunidade na luta por seus direitos contra grandes empreendedores da indústria do turismo de massa que pretendem ocupar seu território ameaçando a qualidade de vida e as tradições da população local.

Este modelo de turismo através do desenvolvimento comunitário é capaz de melhorar a renda e o bem-estar dos moradores, preservando os valores culturais e as belezas naturais da de cada região.



REFERÊNCIAS:


ALCÂNTARA, Elzenice de Nazaré Monteiro. Prainha do Canto Verde: Turismo Socialmente Responsável e Gestão Participativa. Fortaleza, 2003. 143p. Dissertação Curso de Mestrado Profissional em Gestão de Negócios Turísticos da Universidade Estadual do Ceará.

ALMEIDA, Henrique Luís de Paula e Silva de. Indicadores de Qualidade de Vida, instrumento para o monitoramento participativo da qualidade de vida de comunidades costeiras tradicionais: o caso da Prainha do Canto Verde, Beberibe/CE. Fortaleza: 2002. 220p.
Dissertação de Mestrado da Universidade Federal do Ceará.

CORIOLANDO, Luzia Neide, LIMA, Luiz Cruz (Org.). Turismo Comunitário e Responsabilidade Sócioambiental. Fortaleza : UDECE, 2003.

CORIOLANDO, Luzia Neide. O Turismo de Inclusão e o Desenvolvimento Local. Fortaleza : UDECE, 2003.

DOWBOR, Ladislau. Da globalização ao Poder Local: a nova hierarquia dos espaços. In: Freitas, Marcos César. A reinvençãodo futuro. São Paulo: Cortez, 1996.

IPEA. Relatório sobre o desenvolvimento Humano. Rio de Janeiro; IPEA, 2002.

NEUMANN, Lycia Tramujas Vasconcelos. NEUMANN, Rogério Arns. Desenvolvimento Comunitário Baseado em Talentos e Recursos Locais – ABCD. São Paulo: Global; IDS – Instituto para o desenvolvimento de investimento social, 2004.

Fonte: Wallquíria Moraes- Bacharel em Turismo e pós graduanda em Gestão Mercadológica e Consultoria em Turismo - São Luís -MA