A dignidade escoa pela sarjeta

Editoria: Vininha F. Carvalho 06/02/2007

Acreditar nas pessoas é uma essencialidade até para não se perder a perspectiva da própria vida. Já confiar nos políticos deve ser uma excepcionalidade, do contrário resultará na abreviação da atividade exercida que, por si só, já é desgastante e perturbadora. A irracionalidade tem sido a marca nas relações políticas e, por isso mesmo, a sociedade não tem alcançado os progressos desejados, daí a sua explícita contrariedade.

Nesta última semana o mundo político nacional viveu momentos surpreendentes, embora não devessem mais surpreender nenhum mortal de tão corriqueiros quanto anormais que são. O episódio da eleição para a presidência do Senado Federal foi um entre tantos vividos na Capital Federal que deixarão seqüelas na vida político-partidária.


O senador José Agripino Maia do Rio Grande do Norte é um dos homens mais dignos do Partido da Frente Liberal e do Congresso Nacional. Sua postura tem sido exemplar. Embora líder da bancada no Senado Federal, ele foi preterido por seu partido na última eleição como candidato a vice-presidente da República na chapa com Geraldo Alckmin da aliança PSDB/PFL, mas, por dever partidário e nobreza de caráter esteve engajado como soldado em apoio às candidaturas escolhidas.

Agora ele foi candidato a presidente do Senado Federal com o “apoio” de seu partido e do “aliado” PSDB que, somados, possuem trinta senadores. Apurados os votos, Agripino Maia obteve apenas vinte e oito, sabendo-se que três senadores do PMDB manifestaram publicamente que votaram em sua candidatura entre os quais eu. No mínimo cinco senadores da aliança PFL/PSDB cometeram a indignidade acobertada pelo pérfido e enganador voto secreto que já deveria ter sido extirpado das deliberações no parlamento brasileiro.

Por várias razões e de várias maneiras a indignidade se avoluma, passa a ter contornos estarrecedores ao se concluir que valores intocáveis como a dignidade estão a escoar pelos ralos e sarjetas fétidos das negociatas abomináveis para a vida republicana.

Fonte: Senador Almeida Lima