O desafio de defender as águas, a cada dia

Editoria: Vininha F. Carvalho 17/03/2010

O Brasil é o país que possui a maior reserva de água doce do mundo, todavia; as águas brasileiras estão ameaçadas pela poluição, pelo desperdício, pelos usos inadequados, pelo desmatamento ao redor dos mananciais, pela erosão e desertificação.

A população brasileira, seja ela urbana, rural residente em cidades grandes, periferia ou pequenas comunidades, tem direito a água potável de boa qualidade, livre de qualquer tipo de contaminação.

As comunidades mais carentes devem ser orientadas no sentido dos cuidados necessários a serem tomados com relação à água. A informação deve estar a disposição de forma precisa, completa e confiável, no que diz respeito a qualidade da água que está consumindo...

O saneamento básico e o tratamento de esgoto são direitos de todos os cidadãos.

Diversas são as soluções, como: fossas sépticas, fossas com filtro, sistema condominial, sistema misto, rede de esgotos, lagoa de estabilização, oxidação laminar, estação de tratamento em grau crescente de depuração, até chegar ao reaproveitamento.

Deve-se pensar na defesa contra as inundações e desabamentos.

Tem-se hoje, rios, vales e canais assoreados, aterrados e retificados de maneira abusiva, alguns até mesmo foram canalizados, tiveram suas margens ocupadas, suas matas ciliares e áreas de várzeas suprimidas.

Regiões que antes eram pântanos, mangues, brejos ou várzeas foram aterradas e depois asfaltadas e edificadas. O lixo que ainda continua sendo vazado nas ruas entope ralos e galerias pluviais. Todavia a natureza cobra.

Quando chega o verão, ela se vinga. As encostas desmatadas desmoronam sobre as construções em áreas de risco; as águas correm sobre o asfalto, a grande velocidade, arrastando casas, automóveis e até mesmo pessoas. Os rios e canais transbordam.

Precisamos recuperar as margens dos rios, recompor sua profundidade original através de drenagens, reflorestar as matas ciliares, os mangues, as várzeas, criar bacias de acumulação nos pontos críticos, reassentar as comunidades de risco, multiplicar o número de áreas verdes nas cidades, criar reservatórios nos telhados para absorção das águas de chuvas.

Reflorestar encostas sujeitas à erosão e risco. Criar circuitos de compra e reciclagem de lixo plástico e projetos geradores de renda, afim de estimular sua catação e acondicionamento para reciclagem. Acabar com a mentalidade do “descartável”.

E os mares?... Temos direito ao banho de mar, sem coliformes fecais.

Um reconfortante banho de mar, está impossível. A poluição das praias por esgoto, ou os derrames de petróleo, tornam o revigorante banho ameaçado. É um fator que abala o brasileiro, inibe o turismo, além do que prejudica todo o ecossistema.

A população deve ser informada de forma segura e atualizada sobre as condições da água do mar. Esta informação deve ser de maneira clara, objetiva e acessível a todos. Qualquer tipo de despejo de esgoto, nas praias ou em rios, valas ou canais, que nela. Também deve haver o monitoramento e controle em relação à poluição proveniente de embarcações, derramamentos de petróleo e outros. É uma missão das autoridades civis e militares inerentes a soberania das águas.

E, quanto aos rios? O Brasil possui uma rede hídrica e alguns dos mais importantes do mundo como: o Amazonas, o São Francisco e o Paraná. Muitos de nossos rios estão seriamente ameaçados de desaparecer ou virar vala de esgoto a céu aberto.

O desmatamento das áreas de mananciais; o garimpo criminoso com despejo de mercúrio, a devastação das matas ciliares, os aterros e construções dentro de faixas de proteção, projetos de irrigação ou de geração de energia mal concebidos, pesca predatória, são algumas das ameaças a serem combatidas e revertidas.

Todo rio tem direito à proteção de sua nascente, às suas matas ciliares. Defender os rios é um desafio de cooperação de diferentes estados, municípios, poder público e sociedade civil em comitês e agências de gestão por bacias hidrográficas.

Sua preservação depende dessas formas de administração, integradas e participativas.



Autoria: Regina Esteves Lustoza- arquiteta, especialista em Geometria Aplicada, mestre em Ciência Florestal, área de planejamento ambiental, coordenadora da Oficina das Águas e professora no departamento de arquitetura e urbanismo da UFV.

Fonte: Fundação Ondazul