O exercício do poder pela posse das águas

Editoria: Vininha F. Carvalho 11/07/2005

Dois problemas e duas soluções diferentes.

Muitos imóveis rurais em áreas de montanha com a qualificação de preservação permanente muito recentemente estão mudando de mãos. Como essas são cobertas com matas nativas, são por excelência produtoras de água doce.

Como a água doce - produto ambiental ou “commoditie” ambiental para alguns negociadores de bolsas está entrando em regime de escassez e toda escassez predispõe ao aumento do poder para quem as possui, vamos fazer algumas conjeturas sobre esse produto até bem pouco tempo considerado como inesgotável e infinito.

O poder se expressa e mede pela posse de dinheiro, bens patrimoniais, veículos, terras, minerais, arvores, animais, pássaros, solo, banhados, cascatas, rios, corredeiras, manguezais e agora também a água doce.

Pouco valor terá casas, terrenos áridos, edifícios, veículos, barcos, se não houver o alimento água, o sustentáculo de tudo. As moléculas do ser humano são constituídas em mais de 90% água. Não necessitamos, portanto de mais nenhuma informação sobre a importância da água doce. Por que doce.

Porque esta representa na face da terra menos de 1% de sua totalidade. Esse 1% está, todavia indisponível nos rios da Amazônia, nas geleiras, nos gelos dos pólos, nos aqüíferos subterrâneos, a maioria ainda inacessível.

O pouquinho que ficou disponível está sendo poluído sem parar, encontra-se escassamente nas regiões litorâneas, onde estão as maiores concentrações humanas.

70% de toda água doce brasileira é consumida pela agricultura. Quando exportamos frutas e outros alimentos, estamos sim, exportando água. Muita água.

Com esses elementos numéricos verdadeiros, o individuo que tiver a posse de áreas ou regiões onde nascem as águas doces, terá em breve, ampla possibilidade de transformá-las em “commodities ambientais” muito bem valorizadas.

Devemos fazer menção ainda da existência dos comitês de bacias hidrográficas que estão surgindo em todo o Brasil, cabendo a eles a taxação da água.

Conhecemos largamente a figura do consumidor de água. Poucos ouviram falar nos produtores de água doce. Recentemente o presidente da Agencia Nacional de Águas – ANA, interpelado por um cidadão após uma conferencia na Expoville que lhe disse:

-Presidente, sou um produtor de água doce. Qual a importância que vossa excelência atribui a essa figura ?

-Então o senhor engarrafa água ?

-Não senhor Presidente. Sou produtor de água doce. Comprei um morro que sofreu destruição da mata nativa, reflorestei toda a área e hoje, depois de 22 anos este morro produz água doce que é utilizada por pesque-pagues e rizicultores.

Vê-se que a figura do produtor de água, aquele que investe pesadamente na recuperação de mananciais que secaram, ainda não foi consolidada na sociedade consumista atual. Um longo caminho ainda teremos que seguir, antes que se possa dar o devido valor ao recurso mineral chamado água doce.

Todavia pessoas bem informadas e possuidoras de grandes recursos financeiros estão comprando e comprando rios, cachoeiras, córregos, fontes, mananciais, nascentes e banhados. Sabem e tem certeza que farão grandiosos negócios com a venda da água doce.

É esperar para ver. Antes que isso aconteça, muitos e muitos sofrerão com a escassez. Milhões morrerão para que o produtor de água seja valorizado. Não é por menos que as Colinas de Golan estão sendo disputadas numa guerra que já dura anos, com milhares de mortos.

As fontes de água consumidas por 80% da população da grande Joinville já pertencem a um só investidor.

Devemos prestar muita atenção aos valores que a sociedade mal informada poderá agregar a esses proprietários. Seriam pessoas que estão pensando no bem estar coletivo ?



Autoria: Gert Roland Fischer-Produtor de água doce, engenheiro agrônomo, foi bolsista convidado do Governo Alemão, especializou-se em resíduos perigosos na Dinamarca, é laureado Premio Global 500 da ONU/UNEP em Bruxelas em 1989, é Premio Von Martius 2001 concedido pela Câmara de Comercio Brasil Alemanha por projetos ecológicos deprodução de água doce, Diploma ao Mérito concedido pelo CREA-SC em 2001 por relevantes trabalhos prestados à comunidade da engenharia e é professor de educação e gestão ambiental.

Fonte: Gert Roland Fischer