ONU diz que água não se regula por lei de mercado

Editoria: Vininha F. Carvalho 08/07/2005

A escassez da água potável é a ameaça mais grave que a humanidade já enfrentou segundo o especialista Hadji Guissé, autor de um estudo apresentado em Genebra, onde se realizam as conversações sobre novos acordos comerciais mundiais.

Guissé analisou principalmente o direito das populações menos
favorecidas ao acesso à água e as implicações da falta do produto para a manutenção da saúde e da própria vida.

Ele argumenta que se uma pessoa humana perder cerca de 10% da água do organismo (cujo percentual fica entre 50 e 65% em adultos e vai a mais de 70% em recém-nascidos) corre risco de vida.

Com base nestes e outros dados mostrando a falta de água potável, especialmente nas nações mais pobres, e na defesa de que
sejam proporcionadas condições de acesso a mais de 1,4 bilhão de pessoas sem abastecimento regular e de qualidade e aos mais de 4 bilhões sem serviços de esgoto a ONU considera que seria prejudicial deixar esse insumo ser regulado apenas pelas leis do mercado.

Além de todos os problemas de poluição e degradação dos principais mananciais hídricos do mundo o especialista alerta para o avanço, em todas as regiões do mundo, mas especialmente na África, da desertificação.

A expansão da fronteira agrícola é citada como outro agravante, uma vez que para cada quilo de cereal produzido são consumidos no mínimo 1.000 litros de água. Os números divergem mas as estimativas indicam que a agroindústria é responsável por pelo menos 70% do consumo mundial de água, ficando a indústria tradicional com outros 20%.

Guissé considera que a privatização dos serviços de água e esgoto, especialmente em países subdesenvolvidos da África, vem contribuindo para aumentar o grau de pobreza dessas populações. Ele defende que a fixação das tarifas leve em conta a capacidade
de pagamento dos usuários.

Este estudo está no centro da polêmica em torno da abertura total dos mercados dos serviços de saneamento, defendida por muitas das nações participantes da OMC. Até 2004 deverão estar concluídas as novas regulações sobre o comércio internacional.

Fonte: ÁguaOnline